Tom Jones no EDP Cool Jazz: Cantor galês tornou escaldante uma noite fresca de Cascais


Tom Jones no EDP Cool Jazz: Cantor galês tornou escaldante uma noite fresca de Cascais

O EDP Cool Jazz continua a apresentar em Cascais grandes nomes da música. Depois dos The Roots, Jamie Cullum ou Diana Krall foi a vez do galês Thomas John Woodward, ou melhor, Tom Jones.

Com um recinto muito bem composto desde cedo, por público maioritariamente over 50 (o concerto só começou às 22h45 apesar de inicialmente ter sido anunciado para mais cedo), o espetáculo de Tom Jones surpreendeu os menos conhecedores.  Com os seus grandes sucessos a serem canções mais pop e vindas da sua faceta de crooner e cantor residente em Las Vegas, Tom Jones aposta agora num espetáculo muito virado para as versões de outros autores.

Logo de início, Jones vai às raízes da música americana com covers blues e gospel. "Burning Hell" de John Lee Hooker é a primeira, logo seguida de canções gospel tradicionais com "Run On" ou "Raise a Ruckus", em ritmo bluegrass.

O primeiro hit a chegar é "Sex Bomb", tocada num arranjo mais calmo e, podemos dizer, até mais sexy. Foi a primeira oportunidade para a maré de telemóveis no ar a gravar.

"Fever", tornada conhecida por Peggy Lee mais originalmente criada por Little Willie John, aqueceu ainda mais o ambiente, logo seguida da "rockalhada" à antiga de "Shake, Rattle and Roll".

"Cry To Me" de Solomon Burke teve direito a imitação de Patrick Swayze (lembramos que a canção era ouvida no filme "Dirty Dancing") e "Delilah", aqui em versão morder ballad mariachi, marcou o regresso aos originais. Mais um gospel dos anos 30: "Soul of a Man" lembrou Johnny Cash e introduziu Leonard Cohen com "Tower of Son", cantada à luz de velas (nos ecrãs) a provocar palmas sentidas para o cantor desaparecido à pouco tempo.

Jones vai contando histórias dos seus muitos amigos (Elvis, Sinatra,…) e da sua participação como júri no programa The Voice UK, onde conheceu o filho de Lonnie Donegan, que aqui homenageia com "I'll Never Fall in Love Again". Composta originalmente por Burt Bacharach, "What's New Pussycat?" é uma canção quase de brincadeira, que passa no filme escrito por Woody Allen com o mesmo nome.

"It's Not Unusual" é aqui tocada em versão bossa nova, com as congas a contrariarem a original mais ouvida nos casinos de Las Vegas. As silhuetas de strippers no vídeo indiciam a mais conhecida música para tirar a roupa: é "You Can Leave Your Hat On" de Randy Newman, popularizada por Joe Cocker para o filme "Nove Semanas e Meia".

O funk aparece em "If I Only Knew" para depois Tom Jones se transformar num God of Thunder com as guitarras rock e os relâmpagos na tela diretamente por trás de si em "I Wish You Would".

Para o encore estavam guardadas as pérolas "What a Wonderful World" de Louis Armstrong, "Kiss" de Prince e um final para dançar boogie woogie com "Strange Things Happen Everyday" de Sister Rosetta Tharpe.

Depois dos parabéns ao seu músico Ben, que fazia 37 anos (Jones retorquiu "I got ties older than that!"), as despedidas fizeram-se perante uma ovação estrondosa. Quase aos 80 anos, Tom Jones secundado por uma bela blues band sabe dar ainda um grande espetáculo afastando-se do rótulo de músico de casino. Queremos mais blues do senhor Jones!

Fotografia Tom Jones: EDP Cool Jazz
Texto: Miguel Lopes