Super Bock Super Rock: da enésima confirmação ao final deprimente [review, dia 21]
Último dia da 24ª edição e o recinto apresentava o aspeto desolador que já se esperava depois das anunciadas promoções desesperadas, em que quem tivesse bilhete podia levar um amigo sem pagar. Foi talvez dos dias de mais fraca afluência na breve história do festival no Parque das Nações. Não seria nada de estranhar depois do anúncio de um cartaz sem headliners, para um festival de dimensão, e em que o artista que mais público levaria, praticamente "vive" em Portugal nos últimos tempos, tocando múltiplas vezes.
Logo no início, Isaura (mais conhecida pela sua participação como compositora e co-intérprete no último Eurosivion Song Contest) apresentou o seu novo álbum Human, saído neste mesmo dia. Para além da apresentação das novas canções, o destaque vai para a presença de Diogo Piçarra, com quem cantou "Closer". A pop eletrónica de Isaura não puxou mais de poucas dezenas de pessoas para o Palco EDP.
Não foram dezenas, mas foram apenas algumas centenas os que assistiram à estreia do londrino Stormzy nos palcos nacionais. Juntamente com Sevdaliza era talvez, o elo perdido com a noite anterior, mas os milhares que quase encheram a Arena, não compareceram neste dia. Inspirado em Drake e Kanye West, o grime de South London cativou os presentes e a energia inesgotável de Stormzy fez, de certeza alguns novos fãs. Apesar de algum desconhecimento da sua música, o remix de "The Shape of You" de Ed Sheeran e o final com "Know Me From" e "Shup Up" fizeram os presentes desejar o seu regresso num palco mais apropriado.
De seguida, Benjamin Clementine regressava a "casa". O músico e poeta britânico tocou variadíssimas vezes em Portugal nos últimos 2/3 anos e já tem uma relação especial com o público português. O artista da poupa gigante trouxe, para além do seu piano, guitarra, bateria e um quinteto de cordas (4 violinos e um contrabaixo) que ajudou a tornar algumas músicas mais épicas (e menos intimistas) mas, por vezes também tornou algumas músicas um pouco mais estranhas, como em "Nemesis".
Para cantar "I Won't Complain", Benjamin chamou ao palco "…a mais elegante, mais bonita, mais autêntica das vozes". Era a recordista portuguesa de participações especiais em concertos do SBSR, Ana Moura. A fadista já estava anunciada e o dueto foi um dos momentos mais belos da noite. O final foi intensíssimo com "Adios" a ser celebrado no fosso dos fãs, "obrigados" a cantar a letra (que alguns desconheciam) e a um staring contest em que só um deu luta ao cantor inglês. Foi um adeus, com direito a frase de despedida: "Eu vou-me lembrar de Portugal para sempre", mas que deverá ser breve pois deveremos ver Benjamin mais vezes por cá.
Pelo EDP, uma reduzida legião de fãs mais velhos via o regresso dos The The. A banda londrina, o melhor o projeto de Matt Johnson, já tem uma larga carreira desde o final dos anos 70, em que aproveitando o movimento new wave chegaram aos tops britânicos. Na história da banda já houveram colaborações com músicos como Neneh Cherry, Jools Holland ou Johnny Marr dos Smiths, mas o dinamizador sempre foi (e continua a ser) Matt Johnson. Seguríssimos da sua idade e experiência, deram um concerto curto, mas bastante intenso, com "The Beat(en) Generation" e "This is the Day" a provocarem as primeiras reações do pouco público presente. Matt aceitou pedidos no final e tocou "Uncertain Smile" (já estaria prevista no alinhamento!) e terminaram com "Lonely Planet".
A finalizar o Palco Super Bock, um ovni terá descido na Altice Arena e deixado uns seres estranhos para tocar. Era Julian Casablancas, o (ex)-vocalista dos The Strokes, aqui acompanhado pelos The Voidz. Casablancas, parece infelizmente ter deixado de lado a sua anterior banda e o seu projeto a solo, para se dedicar este rock "experimental" que parece não ir a lado nenhum. A plateia já muito despida ao início foi massacrada até ao final (os que aguentaram pois metade saiu na terceira música) com canções sem grande norte e que parecem ainda estar na sala de ensaios.
Desde as intros em que se ouviu desde Kraftwerk a música caribenha, à primeira metralhada com "M.utually A.ssured D.estruction" ou ao exotismo que se seguiu com "QYRRYUS", tudo foi soando muito estranho. As figuras também exóticas dos músicos e um Casablancas que parecia também possuído por alguns ácidos, foram tentando esvaziar a arena até final. Quase o conseguiram, pois terminaram com apenas poucas centenas (tanto??)!
Mesmo que ninguém pedisse, houve um encore com uma primeira tentativa de tocar "You Only Live Once" dos Strokes apenas acompanhado pelo piano mas, depois de muita indecisão, todos os elementos da banda regressaram para algo mais que ninguém percebeu bem o que era.
Foi um final deprimente para um festival que demora a encontrar o seu rumo aqui no Parque das Nações. Tentou fazer "omeletes sem ovos" e a mesma não soube lá muito bem!
Equipa Noite e Música Magazine no Super Bock Super Rock
Fotos: Rui Jorge Oliveira
Textos: Miguel Lopes
Edição: Nelson Tiago
Inserido por Redação · 22/07/2018 às 13:13