Sharon Jones ao vivo na Aula Magna, Lisboa [reportagem]
Domingo, Aula Magna, Sharon Jones. Estas foram as 3 premissas que marcaram o desafio que é sair do conforto de casa, numa noite fria, para assistir a um concerto antes do início da semana.
Quem ouve Sharon Jones mesmo que nunca a tenham visto ao vivo, acompanhada pelos seus exímios Dap Kings, conhece-lhe o soul, o funk, a sonoridades jazzística, uma voz ardente e um animal de palco. A noite prometia um aquecimento, ao corpo e principalmente à alma!
Na sala principal da Aula Magna, o público esperou durante uma hora, após o cancelamento da performance de Luca Sapio & The Dark Shadows, marcada para a primeira parte. Na plateia estava a prova de que a música quebra diversas barreiras, estilísticas, linguísticas, geracionais e étnicas.
A meia luz, com o relógio a marcar 10 horas, entra a formação instrumental que abre caminho ao último concerto da digressão europeia e introdução vocal das carismáticas The Dapettes, o duo de Saundra Williams e Starr Duncan. Vozes intensas, encorpadas, com agudos sublimes e graves majestosos, numa escala arrepiante que só vozes da era Motown, são capazes de dominar.
[alpine-phototile-for-flickr src="set" uid="60380835@N08" sid="72157649385991766" imgl="fancybox" style="floor" row="5" size="640" num="12" highlight="1" curve="1" align="center" max="100" nocredit="1"]
O guitarrista Binky Griptite comandava as tropas e, três músicas depois, tinha a Aula Magna a seus pés. Pela sua voz entusiasta, chega-nos o convite para uma salva de palmas à anfitriã. Miss Jones, de vestido brilhante, sapatos de dança prontos a demonstrações dançantes, é recebida pelo lado mais caloroso de Lisboa. Imparável, canta "Retreat" do mais recente lançamento Give People What They Want (2003), que se estende até uma viagem aos anos 60 e 70, com "If You Call" como banda sonora.
Das doutorais, as sortudas cadeiras ao nível do palco, salta um membro com movimentos destemidos para acompanhar Sharon Jones durante "He Said I Can't". A senhora da noite, conta com 58 anos de vida, com inúmeros sucessos e uma recente batalha contra o cancro, vencida recentemente pela guerreira que demonstra ser.
Em "People Don't Get What They Deserve", sentimos James Brown na sala, de voz arranhada mas pujante, com o groove no máximo, com coreografias dominadas com mestria e personalidade. "Slow Down, Love" e "Long Time, Wrong Time" acalmam o ambiente, ainda de festa mas com tempo para respirar fundo e saborear o momento.
Sharon Jones desafia o público feminino a juntar-se à celebração, de vida e de música, em cima do palco. Pede 6 mas mais de 20 lhe fazem companhia! Seguem-se as notas audazes, matreiras de "You'll Be Lonely", com um piscar de olho sincronizado na perfeição com um filme de Quentin Tarantino.
Para além do Pai do Funk/Padrinho da Soul, a cantora tem uma imitação infalível de Tina Turner, também ela detentora de alcunhas como Rainha do Rock ou um mais arrojado The Acid Queen. Movimenta-se lentamente até "Get Up and Get Out" começar. De pés descalços, entra no espírito Turner, puxa a saia para cima para mais uma coreografia explosiva.
Entre a história de uma sobrevivente, lições de vida, a apresentação da banda – das cordas, aos instrumentos de sopro, passando pela percussão – e a melhor performance de soul music do ano, em Portugal, ouviu-se "Making Up and Brealing Up (and Making Up and Breaking Up Over Again)" e o seu maior clássico "100 Days, 100 Nights" do disco homónimo, lançado em 2007.
A despedida fez-se ao som de "Stranger To My Happyness", que evoca memórias deste género musical, criadas por formações como The Supremes, Bo Diddley, Gladys Knight,Charles Bradley e derivados.
Da Aula Magna saiu um público de alma lavada, encantado e rendido a uma estrela musical, que não responde a vedetismos. Sharon Jones responde à sua doutrina, à celebração da música, da vida – e nós dizemos: Amén!
Fotos: João Paulo Wadhoomall/Oporto Agency
Texto: Redação c/Oporto Agency
Inserido por Redação · 25/11/2014 às 15:02