Royal Fado no Coliseu do Porto: O Fado Lírico de Yolanda Soares
Yolanda Soares esteve no Coliseu do Porto para apresentar o seu espetáculo inspirado em Amália Rodrigues. O Royal Fado concentrou, num só palco, o Fado, o canto lírico e ainda o ritmo dançado do flamenco. Uma noite de mistura de sonoridades que pareceu agradar quem por lá passou.
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Passavam quinze minutos da hora marcada e o Coliseu teimava em não encher. Os 3.000 lugares da sala da Invicta pareceram exagerados para as menos de mil pessoas que compareceram. Durante quase duas horas, o Royal Fado mostrou canto, dança e bons momentos de música.
A abertura do espetáculo ficou a cargo dos sete músicos que acompanharam a fadista lírica e dos bailarinos Victor da Silva e Anna Melnikova com o tema "Verdes Anos". Uma bela coreografia de contemporâneo, seguida de uma performance de dança oriental pelo bailarino Horuz Mozarabe foram o mote para o aparecimento de Yolanda Soares. A fadista lírica surgiu com o tema "Madalena".
"Este é um espetáculo de algo que parecia simples mas tornou-se, para mim, grandioso" – A artista explicou a inspiração em Amália e em vários poemas de poetas como Pedro Homem de Melo e Almada Negreiros. Este Royal Fado foi produzido e dirigido por Chris Marshall, presente na banda com o seu cajon.
Em palco, João Santos na guitarra acústica, Luís Coelho na guitarra portuguesa, António Barbosa no violino, Vasco Sousa no contrabaixo, João Português na percussão e a dupla britânica Chris Marshall e Claire Jones no cajon e arpa, respetivamente. Um conjunto de músicos que fez este Royal Fado possível.
Seguiram-se temas como "Cravos De Papel" e "Lianor", este segundo acompanhado pelo flamenco da bailarina Isabel Rodriguez. "Cuidei que Tinha Morrido" deu continuidade ao alinhamento, um poema de Pedro Homem de Melo que retrata o desgosto de um amor que não se alcança.
"Este tema é uma dança retratada em palavras" – Momento para a artista chamar ao palco o coro "Alma de Coimbra" para interpretar, com ela, o poema "Rondel do Alentejo" de Almada Negreiros. Uma canção cantada também pelo público. O coro, dirigido pelo maestro Augusto Mesquita, ficou em palco para interpretar mais dois temas enquanto a fadista se ausentou. O grupo de Coimbra fez soar "Amália" e "Sodade", este segundo criou um dos momentos mais emocionantes da noite pela familiaridade que o tema tem com os portugueses.
Yolanda Soares regressou ao palco com outro vestido e na companhia do tenor Bruno Almeida. Juntos, interpretaram "Naufrágio". Um tema que trouxe a ópera e o lírico com mais intensidade para o espetáculo. Antes de sair, Bruno Almeida cantou ainda, sozinho, o tema "Madageña Salerosa".
"Tudo isto é uma homenagem a Amália, àquela Amália que soube ousar! Também eu sou ousada" – A artista falou da autenticidade do fado e da essência que não se perde mesmo com o toque lírico que Yolanda lhe dá.
Já na reta final do concerto, a artista apresentou a dupla britânica que a acompanha na arpa e no cajon. Os britânicos Chris Marshall e Claire Jones juntam a harmonia da arpa com a percussão do cajon e têm, juntos, um espetáculo que tem corrido o mundo. A dupla brindou o público com "Libertango".
Num dos momentos finais, Yolanda Soares leu o poema "Mudam-se os Tempos, Mudam-se as Vontades" de Luís Vaz de Camões e, antes de interpretar "Soledad", dedicou o tema às vítimas da guerra na Síria. Com uma vela acesa e apenas ao som da arpa de Claire, a artista entoou este poema apagando a vela no final. Um momento quase teatral.
Com todos os músicos e bailarinos em palco, Yolanda Soares deu por encerrado este Royal Fado novamente com o tema "Rondel do Alentejo". Um término em festa para um espetáculo que juntou várias influências na música e na dança e que pareceu agradar os nortenhos.
Fotos: Júlia Oliveira
Texto: Daniela Fonseca
Inserido por Redação · 05/03/2018 às 15:37