Primavera Sound Porto: Pet Shop Boys prometeram viagem ao baú das memórias de outros tempos e cumpriram

A música atravessa gerações, conecta pessoas, derruba barreiras, constrói pontes e novas histórias. Na música, como na vida, o crescimento acontece fora da zona de conforto e na coragem de explorar o novo e desconhecido, mas também no respeito e no carinho com que olhamos para o passado e para quem trilhou caminho antes de nós. O penúltimo dia do Primavera Sound foi assim, uma viagem entre o futuro, presente e passado onde, com os olhos colocados no futuro, o coração recuou até à década de 80. E como soube bem entrar na máquina do tempo.

O terceiro dia do Primavera Sound arrancou com Margarida Campelo e Meta nos palcos secundários, Plenitude e Vodafone, mas foi com Deixem O Pimba Em Paz que se começou a desenhar um ambiente mais familiar. Sem chuva e com alguns raios de sol a quererem espreitar, pais e filhos começaram a chegar ao recinto para uma sexta-feira descontraída. Bruno Nogueira, Manuela Azevedo, Filipe Melo, Nuno Rafael e Nelson Cascais abriram o Palco Porto para, com humor, fazerem uma homenagem à música portuguesa. Com quase uma década de vida, é um espetáculo que continua a dar cartas e a arrancar gargalhadas sinceras. Ouviram-se temas como "Ninguém, Ninguém" e "Taras e Manias" de Marco Paulo, "Bebé" da Romana e "Garagem da Vizinha" do Quim Barreiros.

No Palco Super Bock, Terno Rei, banda brasileira de indie rock, trouxe um hype de anos 2000 de bandas como Skank e LS Jack, e apesar da pouca energia em palco, proporcionaram um fim de tarde nostálgico e relaxado a quem estendeu a toalha na relva. Num dia que abraçou gerações e várias preferências musicais, My Morning Jacket, banda norte-americana com influências de country e rock psicadélico, subiu ao Palco Porto para proporcionar um dos melhores concertos do terceiro dia. Tocaram temas como "Love Love Love", "Gideon" e "Wordless Chorus" e fizeram as delícias dos fãs que há muito ansiavam ver a banda em Portugal.

Antes de Pet Shop Boys, NxWorries começaram a abrir a máquina do tempo no Palco Vodafone e trouxeram brilho, boa disposição e muito Groove ao estilo dos anos 80. Abriram o concerto com "Wngs" e "Kutless", mas foi com "Again" de Lenny Kravitz e "What You Won't Do for Love" de Bobby Caldwell que o público apresentou o passaporte na porta de embarque.

Pais e filhos prontos, a porta do Palco Porto abre-se, vislumbra-se uma luz e fumo branco e… "Olá anos 80!". Pet Shop Boys, subiram ao palco para uma viagem épica ao mundo dos sonhos e memórias. "Suburbia", do primeiro álbum Please de 1986, abriu o concerto, num cenário minimalista, contido e simétrico, onde Neil Tennant e Chris Lowe se apresentaram com máscaras de combate. Já sem máscaras e num espetáculo cheio de cor, frescura e jovialidade ouviram-se temas como "Hard", "Left To My Own Devices", "Dreamland" e "Vocal", estes últimos mais recentes. Com um público que aproveitou a viagem do início ao fim, "Always On My Mind", "Go West" e "It's a Sin" vão, com certeza, ficar eternizados na memória dos miúdos e graúdos que tiveram o privilégio de sentir a onda de boa energia. Para o encore ficaram "West End Girls" e "Being Boring", que encerraram o melhor concerto da noite. Os Pet Shop Boys prometeram uma viagem ao mundo dos sonhos e memórias e cumpriram.

Tempo de regressar ao presente e St. Vicent já tocava no Palco Vodafone, num concerto intimista onde as suas guitarradas teatrais foram rainhas. Como sempre elegante, eclética e minimalista, St. Vincent aqueceu o coração dos seus fãs mais fiéis e abriu o concerto com "Digital Witness", "Down" e "Birth in Reverse". Calorosa e sedutora, a artista norte-americana, retribuiu o carinho do público e com a balada "New York" desceu até à primeira fila para um sentido abraço aos fãs. De volta à irreverência e às guitarradas ouviram-se "Los Angeles" e "Sugarboy". A reunião de velhos amigos terminou com "Your Lips Are Red" e "The Melting Of The Sun".

De olhos postos no futuro e nas gerações mais novas, Central Cee, rapper britânico, fechou o Palco Porto com uma intro de respeito, seguida de "Loading" para o delírio dos mais jovens que, por esta altura, já tinham enviado os pais para cama. Num concerto enérgico, mas que não beneficiou da hora e da ameaça de chuva, ouviram-se "6 For 6", "Let Go", "One Up" e "Doja", esta última o ponto alto do concerto.