NOS Primavera Sound: dia 1 (09/06): Sigur Rós para 25 mil
As portas da quinta edição do festival que trás a música internacional ao maior palco natural da cidade do Porto, abriram na tarde desta quinta feira e o ambiente inigualável do Primavera voltou a sentir-se no ar.
Por volta das cinco horas da tarde as primeiras pessoas começavam a entrar e a explorar o recinto que, este ano, recebia-as com algumas diferenças relativamente ao ano passado. A primeira grande alteração visível era, sem dúvida, a deslocação do Palco Pitchfork para logo após os pórticos de entrada, do lado esquerdo. Para a sua morada antiga, deslocaram-se as lojinhas e os vários "restaurantes sob rodas" que este ano inauguram a presença da Street Food no recinto.
De resto, tudo se encontrava muito semelhante ao que havíamos visto em edições anteriores do festival. A forte presença dos parceiros com os seus espaços próprios, invadidos por filas longas com tempo médio de espera de 20 a 30 minutos para quem ia à famosa caça ao brinde, voltava a ser evidente.
Já ao entrar no espaço verde do Parque da Cidade, no fim do anfiteatro natural, o Palco NOS (Palco Principal) cumprimentava-nos e piscava-nos o olho, seduzindo-nos para os concertos que, mais tarde, lá se iriam passar. Ali mesmo ao lado, o Palco Super Bock. O palco que recebeu Sensible Soccers e inaugurou a edição de 2016 do NOS Primavera Sound.
Aos poucos o público ia chegando e compunha a frente do Palco NOS que se preparava para receber Deerhunter. Alguém fazia bolas de sabão para passar o tempo e, talvez pela mesma razão, alguém as tentava rebentar quando elas passavam. Outra coisa bem evidente era a quantidade de estrangeiros presentes no recinto. Cada vez que chegava alguém para perto do palco, ora se ouvia falar espanhol ora italiano, ora sueco ora alemão, etc. Ouvir português acabava por ser raro e, mesmo quando se ouvia, ouvia-se a língua com diferentes sotaques. Bradford Cox entrou em palco, depois dos seus colegas de conjunto o terem feito, talvez demasiado formal para o contexto… De blazer e gravata às riscas, roubando o estilo, não sei se propositadamente ou não, de Angus Young dos AC/DC. Mesmo com os "Amigos, gracias" que ia dizendo depois de terminar uma música, constantemente a merecer um comentário de desagrado dos portugueses presentes, Deerhunter conseguiram mover a primeira multidão, ainda que muito tímida, para o palco principal.
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Mal o Palco NOS deu por encerrado o seu segundo concerto, como já é normal, começou o deslocamento do público do lado direito do recinto para o lado esquerdo como se de uma formação humana de ping pong a ser jogado entre o Palco Principal e o Palco Super Bock se tratasse. Julia Holter veio dar um ambiente de descontração e maior tranquilidade. So "beautiful here in Porto. I want to stay longer". Em palco, acompanhando a sua voz melódica e tranquilizadora, só foi necessário um contrabaixo, uma bateria e um violino para que a sua música experimental fosse um sucesso no Parque.
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O dia já se tornava noite, o tempo ameaçava molhar o recinto, mas o ar frio proveniente da proximidade do Atlântico foi o único fator que começou a importunar os festivaleiros. Mas todo esse frio deixou de se sentir quando se olhou para o relógio que quase já marcava 22:20 e todas as 25 mil pessoas que fizeram deste o melhor primeiro dia do NOS Primavera Sound, se reuniram em frente ao palco principal e assistiram ao tão aguardado concerto dos islandeses Sigur Rós. No topo da colina que dá para o lugar onde o palco se encontrava, via-se, ouvia-se e sentia-se toda a comoção que antecedia o concerto. A cenografia, como já é habitual nos concertos da banda, parecia estar particularmente bem enquadrada no ambiente natural do festival no início do espetáculo com as imagens de um bosque a serem projetadas num primeiro plano que depois desapareceu para revelar uma prisão de LEDs que retia os três membros do grupo. A barreira entre palco e plateia foi quebrada e, todo aquele espaço que agora parecia pequeno, transformou-se num só. O jogo de luzes e de vídeo aliado à musicalidade, petrificaram o público que olhava para o palco como se estivesse a tentar entender tudo o que dali vinha, como se de uma obra de arte se tratasse. Cada música, apesar de diferentes, era como uma viagem de montanha russa: O início era calmo… aos poucos a velocidade, como a adrenalina, iam aumentando… já numa fase mais avançada a exaltação era atingida, mas… no fim da montanha russa… a calmia voltava aos poucos, mas não bruscamente. O fim de cada música apresentada era como uma travagem bem executada.
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Quem se sentia anestesiado depois de Sigur Rós mas decidiu enfrentar as condições atmosféricas e ficar mais um pouco, de certo que conseguiu restabelecer a sua energia. De volta ao Palco Super Bock, Parquet Courts conseguiram criar no público um efeito melhor que o da cafeína. O recinto ganhou um novo ânimo e o dia pareceu ter começado de novo, agora em espírito mais roqueiro.
A chuva incomodava, mas não parecia transtornar aqueles que aguardavam Animal Collective que fechariam com chave de ouro o Palco NOS. O pano de fundo do palco era composto por algo que parecia retirado da mente de Picasso. As cores, as imagens disformes, previam o que a performance seria. A palavra que define melhor o que se passou às 01:10 no Parque da Cidade, é: psicadelismo. Uma mistura de tudo o que durante o primeiro dia do festival se tinha passado nos diferentes palcos, acontecia agora num só. A energia que passava era contagiante e o climax do dia 9 foi conseguida embora que com alguma lentidão.
No final, todos se dirigiam para o alcatrão do queimódromo. Os mais fortes, viravam à direita em direção ao Palco Pitchfork onde gastariam o que restava da energia até agora acumulada; os restantes seguiam em frente para os pórticos e despediam-se com um "até já".
Equipa Noite e Música Magazine no NOS Primavera Sound
Fotos: António Teixeira
Textos: Henrique Caria
Inserido por Redação · 10/06/2016 às 15:21