Lady Gaga ao vivo na Meo Arena: transformar o Pop em Arte


Lady Gaga ao vivo na Meo Arena: transformar o Pop em Arte

Há quatro anos atrás Lady Gaga dominava o Pop mundial, esgotando o então Pavilhão Atlântico. Para além do nome da sala, muita coisa mudou entretanto na sua carreira, mas o recinto escolhido para receber a segunda visita da cantora americana a Portugal foi o mesmo. Desta vez com a sua artRAVE: The ARTPOP Ball Tour, digressão do seu último registo; ARTPOP.

A Meo Arena apesar de ter estado longe de esgotar estava desejoso. O palco tinha um prolongamento semelhante a um "R" composto por passadeiras de acrílico iluminado e ocupava quase metade do recinto. A primeira parte foi dividida entre Breedlove (que veio mostrar o seu Magic Monday EP) e Lady Starlight (com um sintetizado set apelidado de Hail to Neptune). Se o primeiro conseguiu meter o público a mexer a amiga da estrela da noite não foi tão bem sucedida.

Pouco passava das 21 horas quando a cortina que escondia o cenário do palco cai e vislumbra-se um cenário semelhante ao de uma ilha grega (tentando recriar uma atmosfera da mitologia que inspirou parte do seu último trabalho), onde se encontram alguns dos cinco músicos da banda e, com uma explosão de cor vários bailarinos irrompem pelo meio do palco e da catwalk exibindo balões de grandes dimensões, sincronizados com as batidas eletrónicas de "ARTPOP". Stefani Germanotta, (mais conhecida por Lady Gaga) surge no meio do palco, exibindo uma roupa brilhante com uma bola azul (fazendo alusão à capa do disco e ao trabalho de Jeff Koons) e com umas asas cheias de penas. Por entre a contínua explosão de ritmos eletrónicos, são projetadas penas e papéis de diversas cores. O corrupio de danças coreografadas ao pormenor e o apelo incessante de Gaga a Portugal foram os acompanhantes de "G.U.Y." e "Donatella". A cantora desaparece por breves instantes para trocar de figurino mas nem por isso a ação cessa; a banda continua a tocar e a tela de cores em palco continua a pintar o espetáculo. Com a nova roupa estamos prontos para viajar até "Venus" onde nascem várias árvores insufladas no meio do recinto. O ritmo não abrandava e o público estava ao rubro.

Roupas, flores, bandeiras e cartas foram atiradas durante todo o concerto e a americana não ignorou os presentes dos seus Little Monsters (nome dos fãs). Após colocar a bandeira nacional a decorar o tripé do microfone e vestir um casaco que lhe atiraram, dá as boas vindas aos portugueses com um discurso de agradecimento aos fãs (chegando a dizer que quando morrer o mundo vai olhar para a sua vida e achar que ela era especial, mas que ainda mais especial eram os seus fãs e a relação que conseguiu criar com eles), apela à criatividade e à arte e informa que esta artRAVE será para comemorar o primeiro aniversário do álbum. De forma arrojada diz que quem foi ao espetáculo para ouvir os êxitos pode-se ir embora, que este é para apresentar o último trabalho. Após uma breve passagem pela "Manicure", "Just Dance", "Poker Face" e "Telephone" elevam a energia do público a outro nível e percebe-se que Gaga estava a brincar, os êxitos não poderiam faltar e desfilaram de forma efusiva.

Chega mais uma mudança de roupa, ao ritmo de "PARTYNAUSEOUS"; tema inédito que conta com a parceria de Kendrick Lamar, que despertou muitos passos de dança e pulos por toda a plateia mostrando-se pronta para enfrentar o monstro "Paparazzi" perante uma Lady Gaga vestida com vários tentáculos com um padrão caraterístico de um dálmata.

Entra uma cadeira gigante em forma de mão e a artista entrega-se a "Do What You Want" e eleva-se pelo céu da arena mostrando a sua irrepreensível potência vocal.

Para além da excentricidade e do arrojo, o piano é algo que Gaga não prescinde, e é precisamente junto deste que demonstra que é uma artista completa. "Dope" e "Yoü and I" arrepiaram muitos dos presentes e "Born this Way" serviu para arrepiar os restantes. Antes deste último tema a cantora leu uma carta que apanhou do chão e chamou Laura, a autora ao palco para lhe dedicar este hino. Não faltou também o discurso de apelo à igualdade e aceitação bem como à comunidade LGBT que tanto defende.

Após lembrar os singles do álbum Born this Way e encarnar "Mary Jane Holland" (onde até "vestiu" três cadeiras) agarrou-se a "Alejandro" e rapidamente se transformou na artista de Jazz que se revelou com a ajuda do seu amigo Tony Bennett (com quem editou muito recentemente Cheek to Cheek), mostrando "Bang Bang (My Baby Shot Me Down)", vestida a preceito.

A artista não gosta de tempos mortos e em apenas 30 segundos decide mudar de roupa em palco (chegando a estar em tronco nu), protagonizando um momento bastante aplaudido pelos presentes. "Bad Romance" será sempre um dos seus maiores hits e fez parte da última correria de músicas, juntamente com "Applause" e uma versão encurtada de "Swine".

O inevitável encore teve direito a mais um tema de ARTPOP; "Gypsy" iniciado de forma acústica mas que evoluiu para uma dimensão altamente festiva, levantando o público a finalizar esta rave da melhor forma.

Lady Gaga largou os cenários megalómanos de digressões anteriores para mostrar a sua ARTPOP, num palco mais estático onde luzes, bailarinos, fumo, moda e energia se moldavam a cada acorde, pintando um quadro vivo que complementava a criatividade e inspiração da artista. Arrojada e dedicada aos fãs, Gaga mostra ser ela própria num espetáculo onde a arte se alia à música transformando-o numa inesquecível rave que agradou a todos os fãs e admiradores da artista.

Foto: Christopher Polk
Texto: Bruno Silva