Imagine Dragons @ Coliseu dos Recreios: A noite de Lisboa, no topo do Mundo
Na primeira semana após o término do ano letivo, terça-feira à noite aguardava para os mais jovens, uma festa de final de aulas esgotada há várias semanas. As Portas de Santo Antão viram a pedra da sua calçada, ocupada com duas filas sem fim, enquanto malas eram revistadas e bilhetes certificados.
Cavaliers Of Fun, a dupla portuguesa criadora de sons vindos do espaço, num sintetizador intergaláctico e acordes inconfundíveis da guitarra de Miguel Nicolau, Nikko para os amigos, o homem que vive em loops nos Memória de Peixe. Quando "Time (better not stop)", dos We Trust do homem do norte André Tentúgal, surgiu em palco numa versão remixada, todo o Coliseu cantou. Com batidas futuristas e ecos da telecaster bege, criaram-se sonoridades que transportaram o público para uma galáxia futura. Da Chick, uma one bad momma, deu outra cor e ritmo ao cenário a cargo dos dois rapazes.
Entre mudanças de instrumentos, ajustes e afinações, o calor lembrava um dia de agosto na temperatura máxima e as filas da plateia destilavam. Os seguranças passaram à ação e encheram dezenas de copos para distribuir aos que estivessem mais próximos, um ato que poderá ter evitado uma dúzia de desmaios.
As luzes desvanecem e os últimos goles antecedem gritos tão estridentes que fazem os flashes, das centenas de câmaras, dispararem compulsivamente. E do palco, as luzes saem como relâmpagos, para um intro que Imagine Dragons tocaram de baquetas fortes na pele dos bombos e surdos de bateria, com o entusiasmo de rapazes na sua primeira banda de marchas.
Dan Reynolds, o vocalista que tem em si um animal saltitante e musical, debruçou-se sobre a primeira fila e colado aos fotógrafos de instrumento de trabalho em punho, cantou "Round & Round". As palmas eram a maior fonte sonora do concerto. Há gestos e sonâncias que trazem The Scrip à memória, embora Danny O'donoghue não se ajoelhe ao bombo em modo Stomp.
"Amsterdam" fez levantar os cartazes com dedicatórias e vozes que sabiam a letra, para lá do refrão. O circuito de energia, refratava em todos os objetos presentes na sala de espetáculo, especialmente do palco para a audiência. Da floresta, "Tip Toe" vem de mansinho, transformando-se numa loucura dançável, de facadas retro-sintetizadas acompanhadas por gritos de guerra – "Hey Yeah" – e punho cerrado no ar. "Hello Portugal, you guys are such incredible people" faz a primeira bandeira nacional cair no chão que Imagine Dragons pisavam; Dan prende-a com o microfone no suporte e eleva-a o mais alto que lhe é possível… naquele momento até ele era português – "This is just the beginning of us getting to know each other".
"Hear Me" trouxe o powerpop destes artistas de Las Vegas, até Lisboa e "Cha-Ching", a faixa bónus de "Night Visions", faz pensar em todas as suas influências: do encanto de Mumford & Sons, às festividades características de Arcade Fire ou até o triunfalismo colorido à Coldplay.
O momento de explosão emocional aconteceu com o cantar dos primeiros versos de "Radioactive", o terceiro single e êxito monstruoso, assim que os acordes iniciais se fizeram ouvir. Palavras e sentimentos, perduraram até Reynolds acenar com uma das muitas bandeiras que tinha à sua disposição, numa condução de maestro que as vozes lisboetas não se cansaram de assistir.
De guitarra silenciosa e violino "30 Lives" faz braços e isqueiros baloiçarem num tema despido de caos energético. Do tom alternativo aos hinos instrutivos, passamos por "Bleeding Out" e "Underdog" com inspiração retirada de uma arena onde se fazem battles de hip hop, com beatbox e os ensinamentos do clássico americano "Stand By Me", original de Ben E. King, cantado num mash up que traz balões gigantes para o recreio. Mas "Demons" meteu-se pelo meio das surpresas e as felicitações são para ser dadas ao jovem e exemplar público, que restaurou a fé nas novas gerações e fez esquecer, por momentos, os que sofrem com a febre da cultura popular.
Uma guitarra composta pela atmosfera sonhadora da Disney e uma melodia adorável, fazem de "On Top Of The World", o momento da noite. Com "It’s Time", o single de estreia do disco de 2012, os pulmões pulsam com força bruta e as palmas de categoria militar fazem companhia ao bandolim.
Da frente de casa até aos camarotes, todos sentiam habilidades suplementares e indispensáveis para trazem a banda norte americana de volta. O ritual do Coliseu, com pés a fazerem o cimento tremer, trouxe "Nothing Left To Say". Um número corpulento de percussão subtil e harmonias ressonantes, onde a voz de Dan luta pelo protagonismo. Terminada a sua tarefa, deu espaço para o rebentar da intensidade, sugando a força até ao tutano dos homens que acreditam em dragões.
Calor, suor e lágrimas para os fãs e novas histórias para contar, pelas bocas de quem se converteu aos encantos de Dan, Ben, Wayne, Daniel e Ryan, numa noite que ficará na memória sagrada do Coliseu dos Recreios.
Fotos: João Oliveira
Texto: Sara Fidalgo
Inserido por Redação · 13/06/2013 às 15:44