Caetano Veloso e Gilberto Gil ao vivo no Coliseu do Porto [fotos + texto]
Manda descer p’ra ver Gil e Caetano: Após terem há um ano passado à pressa por Portugal, Caetano Veloso e Gilberto Gil regressam para quatro concertos esgotados inseridos na segunda ronda da turné que celebra a amizade dos dois músicos e um século de música.
Enquanto, aos poucos, o Coliseu do Porto atingia a sua lotação máxima, no palco, dois violões e dois bancos marcavam os lugares dos protagonistas da noite. As luzes da sala diluem-se gradualmente e os mestres do tropicalismo pisam o palco entre fervorosos aplausos que se calam quando os primeiros acordes se fazem ouvir.
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Com "Back in Bahia" começam com o seu recomeço. Começam com o relato cantado do que foi voltar ao Brasil após três anos de exílio em Londres. Começam pelo fim de um capítulo da sua história pessoal que ao longo do espetáculo fazem questão de contar à plateia. Quem esperava só ter ido assistir a um memorável concerto de duas lendas vivas da música brasileira, enganou-se… fez também parte de uma interativa aula de história presidida pelos professores Caetano e Gil que, na primeira pessoa nos dizem que "Lá em Londres vez em quando me sentia longe daqui (…)" ou que "meu coração não se cansa, de ter esperança (…)", enquanto estão de costas voltadas para as 26 bandeiras dos estados brasileiros.
Após "É de manhã", a música mais antiga feita pelos dois, Caetano apresenta, depois de saudar o Coliseu, "As Camélias do Quilombo do Leblon", a música em ritmo de bossa samba mais recente da parceria. Mas nem tudo nestas quase duas horas de espetáculo são da autoria dos dois. Com "Eu vim da Bahia" e "É luxo só", a devida homenagem foi feita a João Gilberto, o pai da bossa nova e ídolo dos dois músicos.
Muitos foram os momentos que se podem considerar íntimos. Desde a cumplicidade dos dois amigos na troca de olhares até ao ambiente que se criou na sala quando a plateia cantou em uníssono "Terra" ou "A Luz de Tieta". Mas foi quando o foco de luz se concentrou em Gilberto Gil que usava o seu violão agora como instrumento de precursão e cantava em voz rouca sobre a morte, que a sala se calou para o ouvir.
Todo o espetáculo foi uma viagem pela vida destes dois impulsionadores do movimento tropicalista. Foi produzido à sua imagem e semelhança. O Porto gostou, pediu mais e por duas vezes conseguiu que voltassem ao palco. A noite acabou com o pedido do público de "Leãozinho" a ser-lhe concedido, com a mensagem de Bob Marley de que "every little thing, is gonna be alright" e, por último, com os dois amigos abraçados a agradecerem a receção da cidade do Porto, cada um com um cravo na mão, símbolo da liberdade pela qual também eles lutaram do outro lado do Atlântico e que daí resultou esta cumplicidade e esta tão rica obra.
Fotos: António Teixeira
Texto: Henrique Caria
Inserido por Redação · 25/04/2016 às 17:59