AC/DC no Passeio Marítimo de Algés: The Angus & Axl Show


AC/DC no Passeio Marítimo de Algés: The Angus & Axl Show

São Pedro cedeu ao diabo e cerca de 60 mil pessoas rumaram a Algés.

Muito já se tinha escrito sobre este concerto e, só por isso, já se adivinhava que pudesse vir a ser memorável.

Primeiro, os AC/DC são das bandas mais históricas do Rock, e arrastam milhões de fãs por todo o mundo, esgotando estádios e tendo já vendido milhões de discos. Em segundo lugar esta tour parecia ser decisiva para perceber se seria uma despedida ou um reboost para a banda, depois das saídas, nos últimos anos, do guitarrista fundador Malcolm Young, do baterista omni-presente Phill Rudd e do vocalista dos últimos 35 anos, Brian Johnson. Por último, adivinhava-se para Lisboa, no dia do concerto, uma tempestade das que já não se viam por cá há muito tempo.

Começando pelo fim, a chuva que caiu impiedosamente durante a manhã e tarde, massacrando os corajosos que chegaram cedo ao recinto (e que ainda assistiram aos esforçados Tyler Bryant & The Shakedown no aquecimento para o concerto da noite), parou milagrosamente cerca de uma hora antes da entrada dos AC/DC, deixando apenas um lamaçal que só se costuma encontrar nos maiores festivais de Verão(!?) em Inglaterra. Neste caso os relâmpagos apenas vieram do palco!

Quanto a saídas de membros da banda nos últimos tempos, as primeiras (de Malcolm e Phil) tinham sido resolvidas "internamente" com entradas de Chris Slade (uma reentrada) e do sobrinho de Malcolm e Angus, Stevie Young sem grandes alaridos. Já a saída do vocalista Brian Johnson a 2 meses do início desta tour, devido a problemas de saúde levantou algumas polémicas pois houveram rumores de que teria sido afastado (embora ele próprio tenha confirmado que a saída se deveu à possibilidade de perda total de audição caso continuasse). Já a escolha do seu substituto, levantou milhares de vozes contra e mesmo muitas devoluções de bilhetes para os primeiros concertos leg europeia da Rock Or Bust World Tour.

O vocalista convidado (para já apenas para esta tour e não como membro oficial da banda) era Axl Rose, um dos mais carismáticos frontman da história do Rock das últimas décadas e que recentemente tinha reativado os seus Guns’n’Roses. O "operário" Brian Johnson tinha sido substituído pelo mais “hollywoodesco" Axl Rose. As vozes de descontentamento foram muitas e a banda permitiu que bilhetes fossem devolvidos pelos fãs mais saudosistas. Esta era por isso, um concerto que iria provar se a escolha seria acertada ou um prego no caixão da banda.

Ora, o concerto de Algés, confirmou não só um Axl Rose renovado (à parte da perna partida que ainda o limita ao cadeirão durante todo o concerto), muito comunicativo (foi aliás o único que falou constantemente entre canções debitando comentários engraçados e fun facts que só um mega-fã da banda saberia) e que mostrou poder ser, não só, um excelente substituto, mas também, (arriscamos dizer) melhor que os anteriores e até elevar o estatuto da banda. Um grupo que é neste momento (e quase sempre foi) o The Angus Young Show, poderá passar (caso os egos o permitam) a The Angus & Axl Show.

Axl Rose começou algo tímido nas primeiras músicas, mas logo atacou os hits com a sua voz característica (que ao contrário de alguns críticos, até se assemelha à de Brian Johnson) e mostrou mesmo alguma reverência por uma banda que sempre foi uma das suas referências.

Quanto ao concerto e ao espetáculo, foi tudo o que já se espera dos AC/DC: um palco com cornos de diabo e grandes ecrãs, os grandes hits (não faltaram "Back in Black", "Thunderstruck", ou "T.N.T"), um início com "Rock or Bust" do último álbum, uma "Rock’n’Roll Damnation" há muito não tocada e "Riff Raff" (já no encore) quase nunca tocada, a homenagem a Bon Scott com "Hells Bells", a Rosie gigante insuflável em "Whole Lotta Rosie", o solo do one man show Angus em "Let There Be Rock" e já com os seus próprios corninhos em "Highway to Hell" e o final com canhões em "For Those About to Rock" depois de duas horas e 21 canções.

A conclusão é que foi mesmo um concerto memorável, em que se confirmou que os AC/DC continuam vivos, que Axl Rose está em grande forma e que quando sair da cadeira que o prende vai voltar a ser uma fera em palco e, por último, que o Rock continua a arrastar multidões de todas as idades e classes sociais e que as notícias da sua morte foram altamente exageradas. "Let There Be Rock"…

Fotos: Everything Is New
Texto: Miguel Lopes