José Barreiro em entrevista: "Aquilo que tentamos fazer no NOS Primavera Sound é uma edição gourmet da edição de Barcelona"
Durante o Mini NOS Primavera Sound estivemos à conversa com José Barreiro. O diretor do NOS Primavera Sound contou-nos o que podemos esperar nesta quinta edição e qual o impacto do festival no público e na cidade do Porto.
Noite e Música: Esta é a quinta edição do festival NOS Primavera Sound, as expetativas estão muito altas…
José Barreiro: Estão. Estão muito elevadas porque, de ano para ano, temos crescido em termos de público e este ano temos uma edição com os passes gerais esgotados. Temos o dia de sexta feira, dia 10, praticamente esgotado também e, portanto, temos aquela consciência de que o trabalho que fizemos até agora está a ser correspondido pelo público. Temos crescido cada edição, temos mais gente do que na edição anterior e, portanto, agora também não podemos defraudar esse mesmo público que vem conhecer a diferença que nós tanto apregoamos do festival que queremos que esteja com mais gente, mas que tenha a mesma qualidade. Não queremos que a experiência seja diferente dos anos anteriores.
NM: Numa época em que temos uma grande oferta de festivais, como é que o NOS Primavera Sound se destaca dos demais?
JB: Bem, há muitos festivais, mas não acho que todos sejam bem feitos. A grande maioria deles junta meia dúzia de bandas e um palco e dá-se o nome de festival. Nós aqui no NOS Primavera Sound quisemos fazer algo completamente diferente. Não é à toa que temos alguém que acompanha artisticamente o festival, ou seja, em tudo aquilo que é pensar a experiência do festival. O João Paulo Feliciano, um artista plástico com o nome na praça, digamos assim, acompanha todas as fases de montagem do festival e assim tenta que, quando o nosso público entra no NOS Primavera Sound, tenha a sensação que está num festival diferente dos outros. A prova provada é que nós temos conseguido concretizar esse objetivo porque, apesar de sabermos perfeitamente que há festivais que têm bandas maiores, sabermos perfeitamente que há festivais com outros orçamentos maiores do que nós temos, nós conseguimos levar a nossa avante e conseguimos que, ao fim de cinco edições, o festival esteja esgotado e, isso é sinal que o trabalho está a ser bem feito e está a ser correspondido pelo público.
NM: Agora que menciona essas bandas, nota-se que o cartaz volta, uma vez mais, a ser versátil e diferente dos outros festivais. O que é que destaca dele este ano?
JB: Nós temos tanta coisa… Outra das diferenças do NOS Primavera Sound é que cada pessoa pode fazer o seu festival. Temos quatro palcos, três a funcionar em simultâneo, só que são três com propostas internacionais, todas elas interessantes para diferentes públicos. A maior parte dos festivais monta um palco de bandas portuguesas, um palco de fado, um palco de… Nós não. Qualquer banda que toca num dos palcos chamados de secundários, podia perfeitamente estar no principal. As pessoas podem escolher três concertos em permanência e acho que isso faz toda a diferença num festival. Mas destaques, obviamente, quinta-feira Sigur Rós e Animal Collective, na sexta PJ Harvey e Brian Wilson e no sábado, AIR e Moderat. São propostas, todas elas, bastante diferentes que também atraem públicos diferentes. Neste momento o mais unânime é o de sexta feira porque PJ Harvey e Brian Wilson dispensam apresentações.
NM: Este festival está muito ligado à edição de Barcelona, que acontece uma semana antes. Tentam ser coerentes com o festival de Barcelona? Como fazem a seleção das bandas que passam pelo Porto?
JB: Isso é uma questão que está permanentemente a ser tratada entre Barcelona e Porto, porque os organizadores de Barcelona também são sócios da organização em Portugal. Nós não temos simplesmente uma marca, temos uma organização que também faz parte dela Barcelona. Aquilo que nós quisemos fazer cá e que estamos a tentar fazer cá, é uma seleção de bandas que, dentro do nosso orçamento, obviamente (não me custa nada dizer que, por exemplo, neste momento não tínhamos orçamento para Radiohead, é fácil assumir isso) tenha a matriz e o ADN do Primavera. O Primavera Sound em quinze edições em Barcelona, não foi sempre um gigante como é neste momento. Foi um festival que cresceu sempre com um público muito fiel. E o público e as bandas que tocavam no Primavera não eram as bandas grandes que tocavam nos grandes festivais europeus. No entanto, neste momento, o festival de Barcelona já tem que ter essas bandas porque a sua dimensão é agora muito grande. Já é um festival para 60.000 pessoas, que tem que ter essas bandas. Mas essas bandas não são do ADN Primavera. E aquilo que nós tentamos fazer aqui no NOS Primavera Sound é uma edição gourmet da edição de Barcelona e, portanto, selecionamos sempre bandas que também tocam em Barcelona, obviamente, mas que mostrem ao público português, apesar de mais de 50% dos passes gerais terem sido vendido no estrangeiro, que há uma diferenciação de programação. É um festival de conteúdo musical e não uma junção de bandas que partilham apenas um palco.
NM: Sente que este festival tem um forte impacto na cidade por causa desse público internacional, que acaba por ser uma elevada percentagem do público geral?
JB: Isso é lógico. Neste momento a hotelaria está 90% ocupada e o Porto tem crescido muito em termos de oferta turística. Os quartos que estão disponíveis são caríssimos, isso é sinal que o festival mexe mesmo com a cidade do Porto. Para além de que, basta um passeio durante os dias do festival, um passeio básico pela cidade do Porto para perceber que o Primavera está presente em cada café, em cada táxi, em cada autocarro. O festival mexe mesmo com a cidade. Não só com a cidade do Porto mas também aqui com a vizinha Matosinhos, onde há imensa gente a almoçar e a jantar nos restaurantes. Este é um público com um alto poder de compra, que fica em hotéis, janta e almoça em restaurantes da cidade e, portanto, não é um público que está a contar dinheiro, é um público que vem usufruir não só da boa música mas também da cidade.
NM: Em termos de novidades para o recinto, o que é que o público pode esperar de diferente das outras edições?
JB: O recinto mantém mais ou menos o mesmo figurino, a única novidade é a deslocalização do palco Pitchfork mais para junto da entrada do recinto. Deu um enquadramento diferente àquela zona mais inóspita do alcatrão antes de chegar ao verde, o alcatrão do queimódromo, e acho que o festival está mais cuidado, mais bonito e acho que as pessoas vão sentir a diferença desse trabalho.
NM: Os eventos de ativação da marca que fazem antes do festival, como é o caso do Mini NOS Primavera Sound e do Primavera nas Virtudes, são uma forma de convidar o público a ir conhecer o festival em si?
JB: Sim, acho que compete-nos também mostrar a algumas pessoas que, ou não têm capacidade financeira para comprar o bilhete ou simplesmente não querem ir ao festival, o conceito Primavera Sound é mais do que bandas a tocar num espaço, é uma maneira de estar na vida e acho que nós temos conseguido transmitir isso através destes eventos que são muito bem frequentados pelo público do festival e que são um fator diferenciador. O próprio nome Primavera Sound, que aqui no Porto é NOS Primavera Sound, é um nome que atrai um certo tipo de público, um certo tipo de gente, digamos assim, que dá um colorido diferente. É gente diferente, música diferente e acho que, quanto mais conseguirmos levar a música a quem não tem um contacto direto connosco, a marca sai reforçada e as pessoas também ficam a perceber que o NOS Primavera Sound é diferente.
NM: Por fim, porque é que as pessoas que ainda não compraram bilhete (o bilhete diário, neste caso, já que os passes gerais se encontram esgotados) o devem fazer?
JB: Porque de facto o NOS Primavera Sound proporciona uma experiência diferente que tem que ser experienciada, que tem que ser vivida. E só estando no Parque da Cidade naqueles dias de 9 a 11, este ano, é que as pessoas compreendem aquilo que eu quero dizer. E mais uma vez reforço, o recinto está cada vez mais bem cuidado e mesmo que as pessoas não tenham aquele apelo pelo cartaz, pela banda A, B ou C, acho que vão sair daqui com uma ideia positiva do que pode ser uma experiência musical. Arrisquem porque vale a pena.
Entrevista: Henrique Caria
Foto: Miguel Nogueira
Inserido por Redação · 07/06/2016 às 9:11