Dengaz em entrevista: "É preciso ter paciência, insistir e sem dúvida fazer aquilo em que acreditamos"
Uma semana depois da sua estreia no palco principal do MEO Marés Vivas, estivemos à conversa com Dengaz. O artista falou-nos do seu percurso na música e daquilo que considera ser essencial na sua profissão.
Noite e Música: Já que acabaste de atuar neste palco principal do "marés", aproveito e pergunto-te qual foi a sensação de o pisar pela primeira vez?
Dengaz: Foi uma sensação muito boa, felizmente nós já pudemos pisar palcos grandes mas sem dúvida que desses palcos grandes, este Marés Vivas vai ficar no coração. Foi um grande concerto que superou as minhas expectativas. Este público estava com muito power!
Dengaz no MEO Marés Vivas
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NM: A tua entrada na música acontece quando tinhas apenas 14 anos e com um grupo de amigos formam os "Dinastia", como é que surgiu este projeto sendo tu tão novo?
Dengaz: Surgiu porque eu já gostava muito de rap, já ouvia rap há algum tempo e já estava naquela fase que queria fazer rap com as minhas letras. Queria cantar as coisas que me apetecia ouvir, falar das coisas que me preocupavam, nessa altura até fazia música com temas que nem conhecia bem, só ouvia os outros rappers falar. Portanto surgiu muito naturalmente, eramos um grupo de amigos que se juntava e gravava as nossas letras! Foi muito fixe porque com 14 anos foi a primeira vez que passou uma música minha na rádio e já deu aquela sensação de "É mesmo isto que eu quero fazer".
NM: Houve uns anos que te afastaste um pouco do hip hop e viraste-te mais para o reggae, inclusive integraste uma banda, e depois voltas para o hip hop e lanças o teu primeiro projeto a solo. Nessa altura ainda procuravas a tua identidade?
Dengaz: Acho que sim, se bem que mesmo nesse projeto de reggae o que eu fazia estava muito ligado ao rap. Eu gosto muito de reggae, gosto muito de ouvir mas não é o estilo de música que eu vou fazer. Nessa altura eu procurava a minha identidade mas também foi uma altura que se começou a ouvir muito reggae e eu não fui exceção, uns amigos formaram uma banda reggae, chamaram-me e eu dava esse contributo do rap. Acabávamos por não ser uma banda de reggae clássica porque fazíamos umas misturas, foi um projeto importante para mim porque deu-me experiência de palco e foi uma maneira de começar pelo início. Hoje em dia há muitos projetos que já começam quase feitos e nós tivemos que passar por muitos palcos, muitas deceções, muitas alegrias. Começamos por baixo e isso deu-nos estofo para estarmos onde estamos hoje.
NM: Qual é a tua identidade? O Dengaz é um artista de hip hop ou uma fusão de vários estilos?
Dengaz: Eu sou uma fusão sem dúvida. O rap é com certeza a minha maior forma de expressão na música, é isso que eu faço, mas não estou fechado nem enquadrado em padrões. Acho que é importante respeitarmos aquilo que fazemos, respeitar os estilos. Eu gosto muito de outra música, por exemplo, gostei de convidar o Zambujo para misturar com uma música minha. Aliás, quem me conhece sabe que eu não faço um rap tradicional só ligado à cena do hip hop.
NM: Tu começas bem novo na música, como já falamos, e em 2010 lanças o teu primeiro projeto a solo "Skill, Respeito e Humildade", para ti são estes os três ingredientes para se ter sucesso?
Dengaz: Sim, acho que é mesmo essencial para aquilo que nós fazemos e para tudo na vida. Skill porque obviamente há que ter a capacidade de fazer as coisas bem-feitas; Respeito, no meu caso, é saber que alguém já fez isto antes de mim e me abriu portas para poder estar aqui, às vezes as pessoas esquecem-se um bocado disso. Ter respeito pelas pessoas quando damos um concerto, por ti que estás aqui a fazer esta entrevista; Humildade porque quem trata as coisas sem humildade mais tarde ou mais cedo vai fazer asneira.
NM: É depois deste primeiro álbum que sentes que as pessoas começam a acompanhar mais o teu trabalho ou foi noutro momento?
Dengaz: Isso foi uma coisa gradual, obviamente que hoje as pessoas conhecem muito mais o meu trabalho, mas foi gradual. Quando eu lancei o meu primeiro álbum se calhar ninguém conhecia o que eu fazia, mas eu tive que o fazer para isso mesmo, para começar a mostrar. Depois fiz uma mixtape que foi para download gratuito que correu muito bem e foi aí que eu realmente comecei a sentir que as pessoas estavam atentas ao que eu estava a fazer e aquilo espalhou-se por mais gente. Agora com este novo álbum, cheguei a muito mais pessoas e isso é muito bom porque pessoas que eu achava que não ouviam aquilo que eu fazia, até estavam atentas e conheciam as músicas. De facto a música não tem limites e pode chegar a todo o lado.
NM: Sendo a área da música em Portugal uma área tão concorrida, o que é que é preciso ter e fazer para se chegar ao Palco principal do "Marés vivas" por exemplo?
Dengaz: Em relação à música eu acho mesmo que é preciso ter paciência, insistir e sem dúvida fazer aquilo em que acreditamos. Nós temos que fazer aquilo de que gostamos, porque fazer música com o intuito de vender é muito perigoso, nós temos que acreditar e ser verdadeiros com o que fazemos porque vai haver muitos momentos que as coisas não vão correr bem e só se nós acreditarmos no que estamos a fazer não vamos ter força para continuar. No início também me diziam que eu devia tomar outra direção e fazer outro tipo de rap, mas é nisto que eu acredito e acho que segui o rumo certo. Se eu não tivesse a fazer aquilo que confiava, à mínima crítica eu ia-me a baixo.
NM: Para Sempre é o nome do teu terceiro disco, este disco é diferente? Especial de alguma maneira?
Dengaz: Sim, sem dúvida. Para mim é especial porque é um disco muito mas pessoal do que os outros, eu cresci e estou mais velho, agora interessa-me ouvir e falar de outras coisas. A reação das pessoas tem sido muito boa em relação a este álbum, fico muito contente quando recebo mensagens a dizer que a minha música mudou a vida delas, deu-lhes força, ajudou-as a procurar um trabalho ou a passar por uma fase mais complicada. Isto sim para mim é o importante.
NM: Foi lançado em novembro do ano passado, está a corresponder às tuas expetativas?
Dengaz: Posso dizer que está a corresponder sim, na primeira semana o álbum foi diretamente para o top 10 de vendas em Portugal, chegou a estar em número 1 no iTunes, por isso não me posso queixar! Há bocado estava a comentar mesmo isso, eu ainda pretendo lançar mais temas para este projeto, por isso, se calhar até é bom que as pessoas ainda não tenham comprado todo o álbum! (risos).
NM: O teu novo tema com o António Zambujo "nada errado" é um tema que tem corrido muito pelas rádios, de onde é que surgiu esta ideia de parceria?
Dengaz: Olha não há assim nenhuma história emocionante por detrás (risos). Eu estava em estúdio e queria falar deste tema, estava com o produtor, o "Twins", escrevemos a música toda e eu disse que era brutal no refrão ter alguém como o António Zambujo. Eu já era fã da música dele, escrevi o refrão e liguei-lhe! Disse-lhe que adorava que fosse ele a cantar esta parte, ele ouviu, adorou e passado poucos dias foi ter comigo ao estúdio e gravamos.
NM: Tu tens passado por imensos palcos de norte a sul e até fora de Portugal. Há algum concerto que para ti tenha tido um significado especial?
Dengaz: Há um que tem um significado especial para mim porque foi o primeiro. Foi no TMN ao vivo (agora Espaço Armazém F), foi a primeira vez que eu senti que o pessoal estava interessado no que eu estava a fazer, aquilo esgotou e ainda houve quem ficasse à porta! Ganhei aquele power e senti que queria fazer aquilo em todo o lado!
NM: Qual é o tema que sentes que é o mais esperado pelo público nos teus concertos?
Dengaz: Neste momento é o "Dizer Que Não", "Tamojuntos", "Rainha" e o "Nada Errado” com o Zambujo que são as que passam mais na rádio e que o pessoal conhece mais. Depois para quem já me conhece há mais tempo, há o "Encontrei" e o "Eu Consigo" e ainda há aquelas que só mesmo quem me acompanhou desde o início é que conhece.
NM: 3 discos, milhares de subscritores no YouTube, e vários concertos. Sentes que já deste o teu contributo para a música portuguesa?
Dengaz: Sinto que estou a dar e tenho muita coisa para fazer ainda. Mas sim, acho que neste momento, no panorama musical, sou um nome a ter em conta. É muito bom saber que as pessoas cada vez mais ouvem música portuguesa e festivais como este são exemplo disso. Hoje tivemos nomes como Jimmy P e como eu que começamos o festival e o recinto já estava cheio! Sei que há pessoas que vieram ao festival para nos ver e isso acaba um bocadinho com aquela ideia que só o que vem de fora é que é bom. As pessoas começam a reconhecer que se faz boa música em português.
Entrevista: Daniela Fonseca
Inserido por Redação · 22/07/2016 às 18:06