Fernando Ribeiro dos Moonspell em entrevista: "Em Portugal, senti que existia uma certa estranheza por não sermos uma banda igual às outras"


Fernando Ribeiro dos Moonspell em entrevista: "Em Portugal, senti que existia uma certa estranheza por não sermos uma banda igual às outras"

Prestes a editar Extinct e a embarcar numa digressão pela Europa, estivemos à conversa com Fernando Ribeiro, vocalista dos Moonspell.

Extinct foi produzido por Jens Bogren (Arch Enemy, Katatonia, Amon Amarth, Opeth and Paradise Lost) no ilustre Fascination Street Studio, entre Estocolmo e Orebro.

No âmbito da "Road To Extinction Tour", o coletivo sobe ao palco do Coliseu dos Recreios e Hard Club, nos dias 27 e 28 de março, respetivamente, para apresentarem Extinct ao vivo, concertos oficiais de apresentação do novo trabalho em Portugal.

Noite e Música – Depois de mais de 20 anos de carreira o que é a música para ti?
Fernando Ribeiro – A música é algo que já existe em mais de metade da nossa vida. No meu caso pessoal, cheguei à música por acaso, nunca pensei nem ambicionei seguir um caminho profissional na música mas sempre me interessei e gostei por certo estilo e uma coisa levou à outra até que formámos uma banda e fomos dando passos… Hoje em dia tudo o que acontece na minha vida tem uma raiz ou pelo menos uma origem no mundo da música.

NM – Pertencer ao mundo do metal torna a entrada na indústria musical mais complicada?
FR – Depende. O metal é considerado um nicho mas tem festivais pelos quais passam 100 mil pessoas. É um nicho bastante grande onde se pode fazer muita coisa e pode-se viver completamente confortável tanto a nível emocional como financeiro. Quando comparativamente a ter o respeito da música mais mainstream há de haver sempre essa luta porque dentro da música metal foram criadas as suas próprias regras. Dentro do metal há sempre tanta coisa a fazer que as bandas não precisam de olhar cá para fora nem precisam de uma aceitação de uma imprensa que nem sequer se esforça por nos compreender quando têm aquilo que muitas bandas tentam alcançar; um público. Mesmo que não se escreva ou não se entrevistem as bandas a internet faz sempre esta ligação, motiva as idas aos concertos, a compra dos discos, chega às pessoas. É um estilo com uma saúde e musicalidade como se calhar nenhum outro estilo começado nos anos 70 tem nos dias de hoje.

NM – Ainda sentes que existem preconceitos ligados a este estilo musical?
FR – Lidar com os preconceitos tem muito a ver com a forma como te colocas perante eles. No mundo em que me movimento que é o mundo metaleiro não há esse preconceito mas em Portugal algumas vezes senti que existia uma certa estranheza por não sermos uma banda igual às outras, por se adaptarem ao nosso estilo de trabalho… Mas nunca deixámos de fazer nada, de entrar em algum sítio por sermos uma banda de metal. Sempre lutámos de certa forma para vencer esse preconceito e foram as conquistas que os Moonspell de alguma forma foram ganhando que fez com que se começasse a falar mais de metal em Portugal. Nós não nos devemos abater ou ter uma posição nula perante o preconceito, não forçamos as pessoas a escreverem sobre nós, damos razões boas e positivas para nos mencionarem e para os nossos fãs seguirem a nossa carreira. O preconceito só acontece quando é sentido dos dois lados e um dos lados não quer de alguma forma livrar-se dele.

NM – Qual o sentimento de ter um álbum novo, prestes a chegar às lojas e quais as expetativas?
FR – As expetativas para nós já estão de uma forma atingidas. Saímos do estúdio e apesar de ainda não ter sido editado e muitas poucas pessoas o terem ouvido, nós e o nosso produtor sentimo-nos dignificados pelo que fizemos, sentimos que crescemos como banda. O resto vem do processo pelo qual trabalhamos em conjunto, fazer um bom espetáculo ao vivo, enchê-lo de conteúdos, apresentar o disco de forma brutal. Estes tempos que corremos agora são tempos de muito esforço, muito trabalho, falar com muitas pessoas, preparar muitas coisas, responder a inúmeros emails e de explorar o momento criativo para o primeiro espetáculo que será no dia 11 de março na Holanda. Aí arranca a nossa tourné europeia e vamos sentir a emoção de tocar este disco ao vivo, para um público que é uma coisa completamente diferente.

NM – Como tem sido a recetividade do primeiro single The Last of Us?
FR – Nós não somos uma banda de singles. Fizemos isto para uma rádio, foi parar à internet e entretanto tornou-se viral. Está a ser muito bem recebida mas eu insisto que as pessoas devem de ouvir o disco, as músicas têm podem ser representadas individualmente mas a experiência que estamos a procura é exatamente dar a conhecer a sensação do disco, quando uma pessoa ouve todos os temas. Já lançámos também o tema que intitula o álbum; "Extinct", que vai ter videoclip, ainda hoje lançámos outro tema que é a primeira música do trabalho; "Breath (Until We Are No More)" e até agora as reações têm sido mesmo muito boas. Muito pouca gente mostrou-se desiludida por estes temas do disco e há um grande entusiasmo por parte dos nossos fãs e ficamos contentes com isso. Essa é a nossa expetativa, chegar a estas pessoas, sermos nós próprios e fazer música na direção que nós queremos. Se as pessoas apreciam aí a magia acontece e faz com que todo o nosso trabalho faça sentido.

NM – Como foi o processo criativo de Extinct, o vosso mais recente trabalho de originais?
FR – Sem dúvida. O processo criativo é sempre um processo vasto de emoções e estados de espírito mas acima de tudo de muito trabalho e para o Extinct não foi exceção. Muito pelo contrário… Apareceu, sem datas para a sua execução. Tivemos a necessidade e o engenho para o fazer. Foram 6 meses de trabalho quase diário, entre preparar o disco e ensaiar, estivemos na Suécia só para o gravar em 35 dias. Foi um processo extremamente intenso mas que musicalmente foi sempre motivador e isso animou as grandes noitadas de trabalho e os grandes dias de estúdio que tivemos com este disco.

NM – Aventuraram-se por novos caminhos ou mantêm a sonoridade própria dos Moonspell?
FR – Ambas as coisas são possíveis. Não nos primeiros discos mas agora que já é o nosso 11º álbum já temos um som caraterístico. As pessoas já nos conseguem reconhecer por isso temos essa sonoridade Moonspell mas há sempre novidade, há sempre coisas que queremos tentar com a nossa música e este disco tem imensas coisas que fazem parte desse caminho. Mas gosto que as pessoas o descubram, um disco que está explicado de primeira não tem muito interesse. É um disco cheio de nuances, atmosferas diferentes que exigem alguma atenção do ouvinte.

NM – O que podemos esperar da Road to Extinction Tour?
FR – Tal como o espírito do disco vai haver uma evolução do espetáculo dos Moonspell. Nós somos uma banda que anda na estrada praticamente desde 1995, já fizemos imensos concertos, já tivemos imensas situações e concluímos que o melhor caminho é sempre o de inventar coisas novas, dar experiências novas às pessoas. Nesta tour vamos com alguma produção visual que vai ser usada em todas as datas, que vão ser muitas (vai passar por todo o mundo até ao fim do ano). Temos as canções do Extinct que resultarão muito bem ao vivo e todo o repertório antigo… Vai ser sempre uma noite dedicada aos Moonspell, à celebração da nossa música. A banda estará no topo da sua forma e vai impressionar as pessoas que pagarem o bilhete para nos ver.

NM – Como se sentem pelo facto de serem uma das bandas portuguesas mais aclamadas a nível internacional?
FR – Nós nunca pensamos muito nisso. A nossa vida diária é mais de trabalho, de conquista e desafios do que de momentos de reflexão. Temos objetivos com a banda, temos coisas que queremos cumprir connosco e com os nossos fãs e isso mantém-nos bastante ocupados. Não fazemos avaliação de estatutos ou popularidade. Temos a fortuna de ter uma base de fãs que é muito sólida, que gosta do desafio musical o que para nós é muito importante porque não repetimos o mesmo álbum. Ficamos contentes que isso nos aconteça porque trabalhamos para isso. Toda a gente à nossa volta o pode fazer; as oportunidades e dificuldades são as mesmas. Sentimos reconhecimento por parte dos fãs que são as pessoas que mais nos interessam neste processo todo, por outro lado estamos muito ocupados para pensar se vendemos mais ou se somos a única banda que fazemos uma digressão lá fora…

NM – Voltavas a entrar num projeto como o dos Hoje?
FR – Sim, foi um projeto que apareceu numa altura bastante intensa da minha vida. Neste momento não teria tempo (risos), os Moonspell desde essa altura cresceram muito e têm ainda mais trabalho do que tinham na altura. Mas foi uma coisa que entrei pela simplicidade como foi feita o convite, por tudo o que incluía o projeto, a nível de amizades, relações… Regressava acima de tudo por ter sido um projeto que nasceu de uma raiz muito simples, de prestar um tributo e do público ter aceite da forma esmagadora como aceitou. De vez em quando ainda nos juntamos, fomos tocar ao Brasil a um festival de fado com a Carminho, mas não temos vida para isso, as nossas bandas não nos deixam descansar.

Entrevista: Bruno Silva