Nos Alive'14: dia 3 (12/07), com The Libertines, Foster The People e Bastille
Depois de um segundo dia em que teve os The Black Keys como as estrelas da noite, o terceiro e último dia do NOS Alive tinha como principal atuação o regresso dos britânicos The Libertines a Portugal, 10 anos após terem atuado no Paradise Garage. Mas será que este foi um concerto que correu de feição à banda de Pete Doherty? Já lá iremos.
Os portugueses You Can’t Win, Charlie Brown abriram as hostilidades do palco NOS para cerca de duas mil pessoas. Estava menos calor e mais vento, mas o grupo não se fez rogado e deu mais um bom concerto, que foi intercalado com músicas do novo álbum Diffraction/Refraction e do álbum de estreia Chromatic. Descontraídos quanto baste, a banda vai trilhando o seu caminho passo a passo, ao mesmo tempo que os seus temas vão ficando cada vez mais conhecidos entre toda a gente. É com rogada alegria que escutamos temos como a pacífica "Be My World", a esguia "Over The Sun/Under The Water", "After Decembe" ou "I’ve Been Lost". Claro, no final, "Heroin", cover dos Velvet Underground.
Uma banda em crescendo e cada vez temos mais certezas de que poderão tornar-se um caso sério de popularidade em Portugal. Afinal, o Charlie Brown sempre consegue ganhar.
Já os Black Mamba, e sem qualquer surpresa, acabaram por tocar para uma plateia mais composta, mas que ainda assim surgia em número inferior comparativamente ao dia anterior. Mas são bem vivaços estes tugas. A energia de Pedro Tanaka, vocalista do grupo, é contagiante e, apoiado pelo baixista Ciro e por Marco Pombinho nas teclas, os Black Mamba levaram ao Passeio Marítimo de Algés toda a sua groove e soul que mais funciona como uma espécie de homenagem à música negra.
O trio lançou em 2012 o seu disco de estreia homónimo, mas para setembro deste ano está já previsto que um novo álbum chegue aos escaparates. Assim, foi com algum regozijo que ouvimos os acordes de "Rock Me Baby" ou "It Ain’t You". Mas o maior momento estaria guardado para o single de maior sucesso do grupo, "Wonder Why", aqui interpretado em conjunto com Aurea, "uma cantora linda" nas palavras de Tanaka.
Infelizmente, os problemas de som afetaram alguns minutos da atuação dos portugueses que, sem se aperceberem ao início de que não estavam a transmitir qualquer som aos presentes, continuaram a tocar como se nada fosse. Mesmo depois de saberem dos problemas de som, os Black Mamba continuaram até ao fim, demonstrando uma atitude que nem todos teriam coragem de perfazer. Com tudo normalizado, seria "I’ll Meet You There" a encerrar uma bela atuação que nos deixou acalentados.
"Isto não é nenhuma banda. Parece algo saído da Eurovisão", dizia alguém ao nosso lado, impávido com a atuação dos britânicos Bastille, que se estreavam em Portugal com a apresentação do bem-sucedido Bad Blood. Discordamos deste jovem, até porque a banda não é má e deu um bom concerto, mas é de consumo imediato, ou seja, o prazer apenas dura nos primeiros minutos. Um pouco do efeito da pastilha elástica. E eles lembram-nos os Imagine Dragons.
Afinal, comparativamente ao que se tinha passado com os Black Mamba, diríamos que estariam dez vezes mais pessoas (maioritariamente jovens) a assistir ao concerto dos britânicos.
A entrada fez-se ao som do genérico dessa bela série conhecida como Twin Peaks, para logo em seguida atirarem-se sem medos à superante "Bad Blood". "Isto aqui é fantástico", exclamava o vocalista Dan Smith, quando se deparava com os milhares de presentes à sua frente.
Qual o problema dos Bastille? Como já referimos, a sua pop-rock ligeirinha é para agradar às massas, mas o facto de apostarem recorrentemente na mesma fórmula, fácil e eficaz, faz com que não os levemos muito a sério. São, portanto, uma banda para a malta jovem, uma banda da moda.
Ouvimos "Overjoyed", primeiro single do álbum de estreia, hits como "Things We Lost In The Fire", mas o que mais gostámos mesmo foi das covers: "No Angels", que mistura "No Scrubs" das TLC com "Angels", dos The xx, e "Of The Night", um mashup entre "The Rhythm of the Night" dos italianos Corona e "Rhythm Is a Dancer" dos alemães Snap!.
Já no final, e para gáudio de muitos, a celebrada "Pompeii", que acabou por ficar manchada pelos problemas de som, fazendo com que a grande parte do tema não fosse escutado por ninguém. Ainda assim, o grupo levou a canção até ao fim, com Smith a pedir desculpa no final, mas sem ter qualquer culpa. Fica para a próxima visita a terras lusas.
Eram para se terem estreado em 2011 no festival Paredes de Coura, altura em que "Pumped Up Kicks" andava nas bocas do mundo, mas só agora os Foster The People vieram a Portugal. E, se os britânicos Bastille foram bem-recebidos, estes californianos foram recebidos com maior entusiasmo. E também mais gente.
É em Mark Foster que recaem todas as atenções. O frontman e vocalista da banda soube prender o público do início ao fim, ora quando ia ao piano e à guitarra, ora quando cantava (bela voz, forte nos falsetes e que até nos faz lembrar uma criança em crescimento), ora quando dançava. E dança bem, o moço.
Os Foster The People têm algumas parecenças; ambas as bandas apostam numa pop facilmente comestível e que agrada às massas. A diferença é que estes californianos são mais resplandecentes, mais afoitos e têm uma maior noção de espetáculo. E convidam à dança. Audazes e simpáticos quanto baste, a banda vai desfilando temas do primeiro álbum, Torches, como "Helena Beat", "Call It What You Want", "Houdini" ou "Miss You", e do mais recente Supermodel, casos de "Are You What You Want to Be?" e a afamada "Coming of Age".
Já para o final, a banda reservou a bulida "Don´t Stop (Color On The Walls)", deixando todo o público em reboliço.
No final de tudo, fica a sensação de dever cumprido, e todos parecem ter ficado satisfeitos com o resultado final. Eles souberam avivar a noite e mostraram que serão certamente bem recebidos numa próxima visita. Nós assim o esperamos.
"Mas quem são os The Libertines?", perguntavam alguns curiosos ao nosso lado, desconhecendo esta banda de Pete Doherty. A verdade é que os The Libertines podiam ter sido "um grande nome se tivessem tido juízo", como confessou Álvaro Covões, da Everything is New, numa conferência de imprensa. Há quem diga que a banda acabou em 2004 devido aos excessos de Doherty com álcool e drogas (com o próprio a desmentir e a realçar que a separação estava relacionada com a sua relação com Carl Barât). A verdade é que eles estão de volta 10 anos depois. Se em Londres o espetáculo dos britânicos teve de ser várias vezes interrompidos devido à desordem do público, os poucos fãs e os muitos curiosos que viram o concerto no NOS Alive foram muito mais comedidos. Talvez por isso, a própria atitude da banda nunca foi muito efusiva, que pareceu ressentir-se do pouco entusiasmo gerado. Este terá sido, muito provavelmente, o concerto de um cabeça de cartaz que registou menos audiência.
Mas aquela máxima do "poucos, mas bons" aplica-se à justa, principalmente às filas da frente. O grupo, apenas com dois álbuns editados, Up the Bracket, de 2002, e The Libertines, de 2004, mas que deverá lançar um novo registo discográfico no próximo ano, foi revisitando os temas da sua carreira, causando picos de maior interesse em temas como "Can’t Stand Me Now" (com Doherty enrolado na bandeira portuguesa) ou "Boys In The Band".
A banda, outrora selvática e rebelde, apresenta-se em Portugal como um grupo de homens bem comportados e a seguir as regras: Pete Doherty, sempre simpático, envergava um chapéu militar soviético ao mesmo tempo que o guitarrista Cart Barât interagia com ele, demonstrando uma grande cumplicidade e química em palco e, se o baixista John Hassall pouco ou nada dava nas vistas, Gary Powell logo tratou de fica em tronco nu para mostrar os seus músculos.
Eles até podem parecer algo românticos, mas são algo enchamboados e desapurados, algo característico de terras de Sua Majestade. E, ao contrário do que se possa parecer, não foram nada tempestuosos, mas sim demasiado sóbrios. E nem sequer temas como "What Became of the Likely Lads" ou "Don´t Look Back Into The Sun" conseguiram impedir que o público circulasse para outros palcos.
Sem muito mais a acrescentar, os The Libertines, depois de saírem do palco, regressavam para iniciarem "Up the Bracker", "What a Waster" e "I Get Along". No final, lá saíram, após a despedida final e um longo abraço. Não foi memorável e não foi com a banda britânica que o NOS Alive fez história. Foi um concerto razoável q.b., restando agora saber se alguma vez voltaremos a ver os The Libertines em território nacional.
O NOS Alive regressa em 2015, também a 10, 11 e 12 de julho. Marcamos encontro no próximo ano?
Fotos: Diogo Baptista e Vic Schwantz/Oporto Agency
Texto: Alexandre Lopes c/ Oporto Agency
Inserido por Redação · 14/07/2014 às 16:04