Nos Alive'14: Palco Heineken, dia 1 (10/07), com Temples, The 1975 e Elbow


Nos Alive'14: Palco Heineken, dia 1 (10/07), com Temples, The 1975 e Elbow

"Mais um ano, mais uma Heineken" ou melhor mais uma quantidade apreciável de bandas num palco que, há muito, deixou de ser só um palco secundário para ser uma das grandes atrações do Alive. Pelos nomes anunciados, este é um ano de "vacas magras" (pelo menos em comparação com anos onde por lá passou Nick Cave, por exemplo), mas esperamos sempre pelas surpresas!

A abrir os vencedores da Oeiras Band Sessions, Jacarés a tentar, no curto espaço de tempo reservado para estas bandas vindas de concursos, passar o seu funk/soul aos poucos que se abrigavam do intenso calor na tenda do Heineken.

Seguiu-se Noiserv que já consegue arrastar muitos fãs sempre que toca mas que parece um pouco deslocado num festival com estas características. A sua música encaixa bem nos finais de tarde mas talvez resulte melhor quando o público se senta na relva (natural) de um Paredes de Coura ou Primavera Sound e se deixa embalar nas viagens que Noiserv propõe. Aqui alguns leais seguidores apoiavam na primeira fila mas os restantes sentavam-se mais interessados no Facebook ou na conversa com o vizinho do lado. Ainda assim, "I Was Trying To Sleep When Everyone Woke Up" arrancou algumas palmas a compasso, "Bontempi" apareceu fora do alinhamento e no final "Don't Say Hi If You Don't Have Time For a Nice Goodbye" terminou com um corte abrupto de som (já com o músico fora de palco) que quase assustou todos os presentes.

Com o palco já cheio (como sempre com a armada inglesa na frente), os Temples colocam finalmente algumas guitarras e animação no palco. Com uma imagem totalmente hippie (com o ruivíssimo vocalista James Bragshaw em destaque) a sua música também remete para os finais dos anos 60/inicío dos 70 onde o rock psicadélico reinava. Balançando entre uns Tame Impala mais psicadélicos e uns Kasabian mais atuais deixaram os singles "Keep in the Dark", "Shelter Song" e "Mesmerise" para um final em grande.

Chamam-se The 1975 mas a sua música remete mais para os anos 80, algures entre a pop das bandas sonoras de comédias do Eddie Murphy (aqueles teclados não enganam) e um soft rock (mais a cair para o teen pop) a fazer gritar as meninas presentes com as letras que falam de sexo, amor e drogas. A contribuir para os gritinhos estridentes (e até umas maminhas ao léu focadas nos ecrãs do palco) vem o ar "carocho-cool" do vocalista Matthew Healy que tenta a todo o custo conquistar a audiência. Resumindo, muito show-off, pouca música (até porque só têm uns EPs lançados) e uma debandada (quase) geral quando se aproximavam os Imagine Dragons no palco principal.

E de seguida música para os mais crescidinhos (aproveitando que os sub-16 não irão sair do palco NOS durante umas horas). Primeiro Tiago Bettencourt surpreendeu pela positiva ao trocar a sua música, por vezes sonolenta, por uma formação e arranjos mais rock, e uma versão inspirada de "Canção do Engate" de António Variações. Seguem-se os Elbow (na foto) com convites de Guy Garvey a brindes de cerveja (ou não fossem eles ingleses) e rock alternativo de letras sentidas com direito a músicas novas ("New York Morning"), não tão novas ("Ground for Divorce") e final cantado em coro com o público em "One Day Like This". A terminar este bloco "adulto" surgiu (com 20 minutos de atraso) Kelis, perante uma desoladora plateia de meia-dúzia de fãs e outra meia-dúzia de curiosos que resistiram ao apelo dos Artic Monkeys. Valeu a pena resistir? Não, mas não quer dizer que a sua soul com formação modo casino Las Vegas (com direito a trio de metais e lantejoulas) não tivesse valor, porém talvez não fosse o local (ou o momento) indicado. Retemos o hit “Milkshake” em versão menos M.I.A e mais Diana Ross e a as cadeiras da restauração arrastadas para a tenda a mostrarem interesse dos presentes mas não o suficiente para levantar e dançar.

Depois do final dos headliners no palco NOS, a surpresa da noite no Heineken: Parov Stellar Band (a fazer relembrar o efeito Crystal Fighters do ano passado). Com um recinto ainda com muita gente, o público dividia-se entre o Clubbing ou este electro-swing do DJ Parov Stellar acompanhado por uma banda onde o destaque evidente eram as (gigantescas) pernas da vocalista Cleo Panther. Combinando o swing dos anos 30 com a eletrónica mais atual, Parov consegue criar melodias mais agradáveis (e não tão agressivas) que chegam aos mais diversos públicos e que puserem uma tenda (e grande parte da restauração) a pular e a dançar. Foi um excelente final de noite complementado com os já habitués Booka Shade.

Fotos: Diogo Baptista e Vic Schwantz/Oporto Agency
Texto: Miguel Lopes c/ Oporto Agency