Primitive Reason no Cinema São Jorge: 20 anos de resistência


Primitive Reason no Cinema São Jorge: 20 anos de resistência

Noite de festa para os Primitive Reason que celebraram 20 anos de carreira rodeados de amigos.

Foi em noite de resistência policial que se celebraram os 20 anos de "resistência" musical de uma banda que começou por fazer das letras contestatárias e da sonoridade desafiante a sua bandeira (neste dia expressa no gigantesco punho fechado que marcava a cenográfica de palco).

Da formação inicial de há 20 anos, apenas resta o vocalista Guillermo de Llera tendo os restantes membros entrado na banda ao longo destas duas décadas. Porém, como era noite de celebração também regressaram o saxofonista Mark Cain, ou o baixista/vocalista James Beja para recordarem velhas melodias.

Foram apenas 10 minutos após a hora marcada (raridade em Portugal) que foi anunciada a primeira homenagem da noite: "Seven Fingered Friend" cantada a sete vozes pelo Coro Juvenil de Óbidos. É de louvar que um coro clássico "adote" músicas de uma banda alternativa criando desde logo uma amplitude de gostos musicais e sonoridades nos integrantes ainda juvenis.

Logo depois entraram os Primitive Reason para um instrumental pautado pelo didgeridoo e os sons tribais. Os acordes característico ska/reggae com os pontilhados tribais do jambé soltam os primeiros passos de dança na plateia quase cheia do São Jorge.

Depois de um início morno a sugerir que os 20 anos de carreira começam a pesar, a atuação cresce em intensidade e o vocalista Guillermo solta-se puxando pela banda e pela plateia. As sonoridades mais fortes de rock/harcore (a puxar para os Rage Against the Machine – uma referência óbvia) tornam a mistura de géneros mais interessante e, dos ritmos por vezes monótonos do ska/reggae passamos para algo mais entusiasmante e rico musicalmente.

Começam a suceder-se os convidados: dos já referidos Mark Cain (a fazer o público saltar ainda mais com o seu saxofone) e James Beja a recordar os tempos de residência nos states e o álbum Some of Us, até Sérgio Gaspar (vocalista dos Skalibans) ou Nuno Gomes (para rappar "White Tree"). Depois dos cânticos índios a indiciarem viagens/"trips" por estados alterados de consciência, recebemos Nel Assassin para "Beat Down" e "Sage" e uma sucessão de ritmos mais negros e pesados.

Segue-se ao completamente diferente com a primeira apresentação ao vivo de "Weakness" a duas vozes: Guillermo e Ana Stillwell acompanhados apenas por guitarra acústica. Sérgio Gaspar e Joana Beja juntam ritmos latinos a "Dust" e, já no encore Marta Ren levantou todo o público para o hit "Seven Fingered Friend".

Depois de "In Between" e "Bobo Grey" com James Beja e alguns dançarinos inesperados em palco (vindos do público) o concerto termina com "Born from Fear" e as duas horas de celebração cimentam o culto de uma das bandas mais importantes no panorama alternativo português. Aguarda-se a celebração dos 30 anos!

Fotos: Vic Schwantz
Texto: Miguel Lopes