Super Bock Super Rock '13: reportagem do 3º dia, 20 de julho


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Ao terceiro dia do festival finalmente, o pó levantou. E desta vez ninguém se importou, pois o clima era propício a isso. Na realidade, o pó apenas levantou literalmente no palco EDP menos preparado para grandes enchentes ou mosh pits, pois no principal o trabalho realizado pela organização, com o aumento da zona relvada, deu bons resultados.

E levantou com a maior enchente do festival com o concerto dos Tara Perdida. A banda liderada por João Ribas tem uma larga base de fãs que não perdem oportunidade saltar desalmadamente ao som deste punk-rock saído do liceu. "O que é que eu faço aqui?" iniciou as hostilidades e terá sido o que pensaram muitos dos pouco conhecedores da banda. Realmente é caso para pensar porque é que quarentões como muitos dos elementos da banda ainda continuam a pisar uma fórmula já gasta. Mas como gostos não se discutem e como é de festa que falamos, nada contra a vivacidade contagiante da banda nascida das cinzas dos Censurados.

Para os lados do palco Antena 3 (hoje reforçado com mais um concerto antes dos habituais djs), outro concerto algo inconsequente. Mas este desculpável dada a tenra idade dos intervenientes. Eram os Surveilance, duo setubalense constítuido pela "semi-deusa da bateria Inês Lobo e pelo virtuoso baixista Tiago Martins" (palavras próprias) que pratica o género musical obscuro shamancore. Admitimos não conhecer este género musical, mas o que apresentaram era uma amálgama de sons sem grande sentido onde apenas se destacava a baterista que até apresentava algumas qualidades técnicas.

Na abertura do palco principal, os Miss Lava proporcionaram o primeiro headbanging do dia. Donos de um hard-rock poderoso o quarteto lisboeta partilhou o seu novo álbum "Red Supergiant" através de músicas como "Feel My Grace", "Crawl" ou "Yesterday’s Gone". Acabados de assinar um contrato mundial com a americana Small Stone Records contentaram o público (ainda muito distribuído pelo recinto) que ali acorreu.

De volta a um palco Antena 3 de horários trocados (mais uma vez os concertos começaram muito depois do anunciado), assistimos a dois dos mais aplaudidos concertos do festival. Com a tenda cheia deram dos melhores concertos rock’n’roll que vimos nos últimos tempos. Os Quartet of Whoah! São uma banda bastante coesa com de Rui Guerra nos teclados, Gonçalo Kotowicz (guitarra elétrica) e a bateria e baixo de Miguel Costa e André Gonçalves a formarem uma espécie de Led Zeppelin a duas vozes (Guerra e Kotowicz). "Ultrabomb" é o primeiro álbum que detonou no Meco e levou o público ao êxtase. Merecem vôos maiores!

De seguida Sam Alone and the Gravediggers, apresentava algo diferente, mas igualmente interessante e demolidor, sem teclados, mas ancorados nas três guitarras. Oriundo do hardcore (Devil in Me) Sam Alone (ou Poli) assinou alguns EPs onde o folk-rock e o country de Johnny Cash ou Dylan sobressaía. Aqui com a big band, ganha outra dimensão mais forte que também recebeu imensos aplausos da plateia onde o negro das t-shirts era nota dominante.

Quase ao mesmo tempo no palco principal e no EDP estavam duas recuperações de bandas dos anos 90 e início dos 2000. Os britânicos Ash nasceram na vaga britpop dos anos 90, mas sempre se tentaram aproximar mais do grunge surgido na mesma década. Desaparecidos do mapa há algum tempo e apesar de se apresentarem em boa forma não cativaram o público que aproveitou para jantar ou deslocar-se aos outros palcos.

No EDP a banda mais divertido do festival, os We Are Scientists com o seu humor nonsense entre canções (serão mesmo cientistas nerds que sabem o nome do planeta natal dos Transformers?) cativaram uma vasta audiência para ouvir um indie-rock característico do início da década anterior. Depois de "oferecerem" t-shirts dos Ash a quem subisse às costas do colega do lado terminaram com a única música de que alguns se lembravam: "Nobody Move, Nobody Get Hurt". Ficou a faltar "The Great Escape"…

À medida que se aproximava a banda mais esperada da noite (e do festival?), Gary Clark Jr. contentava a plateia feminina (e a varanda VIP do forte Super Bock) com o seu blues texano (ou viria do Mississipi) acompanhanda pelo seu virtuosismo na guitarra com um baixista e um baterista. Esta versão 2.0 de Ben Harper necessita de novo oportunidade em sala mais fechada e intimista para confirmar se o sucesso recente com "Blak and Blu" terá sucessor à altura.

Há ainda tempo para uma passagem pelo fecho (se excluirmos o dj set dos Digitalism já fora de horas) do palco EDP. E que melhor banda para não deixar ninguém parado que os !!! (Chk Chk Chk)? Parece-nos que quase ninguém, mesmo numa noite dominada pelo rock mais pesado! Os californianos prenderam o público o mais possível (terminaram o concerto no preciso momento em que Josh Homme dedilhava os primeiros acordes) com o seu funk eletrónico comandado pelo excêntrico vocalista-performer Nic Offer. De calções (ou boxers?) como já nos habituou nas anteriores visitas não parou de dançar (da forma peculiar que também já conhecemos), subiu à torre de som (onde também dançou), despejou cervejas sobre a cabeça no meio do público e apresentou o novo "THR!!!ER" com o groove de "Even When the Wate’s Cold" ou "Slyd". De álbuns passados, é sempre de destacar o poderoso "Jamie, My Intentions Are Bass" ou outras "malhas" funk que pareciam retiradas de um qualquer filme porno doas anos 70 e atualizadas com os ritmos eletrónicos mais atuais. É sempre um prazer tê-los por cá!

A noite mais concorrida do festival tinha apenas um motivo: os Queens of the Stone Age. Isso percebeu-se no momento do anúncio do cartaz e confirmou-se esta noite. Foi uma autêntica romaria até à Herdade do Cabeço da Flauta com a média de idades a subir claramente e as t-shirts escuras a dominarem. Depois de três passagens por Paredes de Coura e pelo anterior SBSR, várias mudanças na formação nunca minaram a ascenção desta banda até à elite do rock mundial. Isto deveu-se à manutenção da "cabeça pensante" do projeto: Josh Homme, cada vez mais requisitado para outros projetos (mesmo de produção) e elogiado pelos fãs e crítica. Apesar de "Era Vulgaris", o anterior álbum ter passado um pouco despercebido, o novo "…Like Clockwork" é uma nova prova de vitalidade e canções como a sensuais baladas negras "I Appear Missing" e "The Vampyre of Time and Memory", ou o primeiro single "My God is the Sun" são garantia de que a qualidade se mantém. Os QotSA gozam atualmente da quase-unanimidade e começam a entrar como inquestionáveis na história do rock. Quanto ao espetáculo ele mais pareceu um filme-concerto com as imagens (bd, filme ou imagem estática) a serem "musicadas" quase na penumbra. Não era preciso grandes artifícios, mulheres semi-nuas ou "sorrisos-Pepsodent". O carisma já estava lá, na música! Parece incrível que as passagens pelos vários álbuns (desde "Lost Art of Keeping a Secret" de "Rater R" a "Go with the Flow" de "Songs for the Deaf", de "Burn the Witch" de "Lullabies to Paralyze" a "Make it Chu" de "Era Vulgaris") tiveram igual coro de vozes a acompanhar e de palmas e histeria no final. Isto é prova de coerência ao longo da discografia que já leva à reverência dos novos (Artic Monkeys) ou velhos (Dave Grohl) amigos. Os Queens of the Stone Age são hoje em dia um must see, não só para os fãs do rock, mas todos os de música em geral, e não apenas uma vez, mas em todas as oportunidades. É pena que aqui terminassem (para já) a tour, pois acreditamos que muitos os seguiriam até novas paragens.

Em jeito de balanço do festival, saúdamos a aposta no Rock em várias vertentes (ou não seja o nome do festival: Super Rock) e questionamos a tentativa de puxar públicos diferentes com propostas desenquadradas (como por exemplo, Azelia Banks ou Miguel) que até beneficiariam cartazes muito mais necessitados e adequados como o MEO Sudoeste. Uma palavra também de apreço pela melhoria das condições para o público (mais relva e menos pó, mais espaço e menos trânsito). Até para o ano Meco! Queremos mais super ROCK!

Fotos: João Paulo Wadhoomall
Texto: Miguel Lopes