Aurea @ Teatro Tivoli


Numa noite de quinta-feira de mãos geladas e cachecóis, o Tivoli preencheu-se de um charme distinto, com muitas caras sorridentes e uma mescla entre as gerações do nossos país. A sala encheu-se de fotógrafos, holofotes e palmas, tudo a postos para ouvir as notas de soul que Aurea prometeu acertar.

Fez-se silêncio até um peculiar aviso de "pedimos o favor de desligarem os telemóveis" encher de humor a sala do teatro Tivoli. Foi concedida a vontade do coletivo, para documentarem todo o concerto e, se assim quisessem, para publicar nas redes sociais, cada momento do início de noite que estava prestes a encantar. Em contagem decrescente, as vozes do público antecedem uma Aurea de vestido azul e felicidade no rosto, pronta para cantar "Do what’s best for you". Depois de alguns passos de dança, para aquecer os corpos em palco, entrou em cena "Don’t you dare to touch her", com sonoridades que fundem uma lembrança inconsciente de "It’s in his kiss", de Cher, e uma dinâmica entre notas jazz e o ritmo de uma bateria que acompanhava cada aviso de Aurea.

"Twice upon a time" inaugura o capítulo groove do mais recente trabalho da cantora, "Soul Notes", desta vez com uma investida de piano, que se deixou levar em crescendo até um trompete cheio de personalidade.

Com carinho e simpatia, Aurea perguntou à plateia presente se a vida corria bem. Passados (quase) três anos da sua aparição como voz revelação nacional, "as borboletas na barriga, são de uma quantidade que eu não consigo explicar". Com "The star", Aurea guia a banda, pela primeira balada da noite, na qual a voz ecoa em todos os cantos da sala. Sala esta que deixa o soul bater à sua porta e introduz o single de apresentação, "Scratch my back".

Uma pausa nos temas novos do alinhamento, levou ao revisitar de canções do disco homónimo, e de estreia, com "Waiting, waiting (for you)" numa cativantes caminhadas pelo palco. "The main things about me" é cantado por uma dreamgirl de cabelos loiros, com a classe de um número da Broadway que pôs a sala de espetáculos, num ataque de aplausos. "Soul Notes" é um álbum biográfico, com histórias de amor e desamor, e é lá que mora "Nothing left to say", de aura melancólica, em que se pede espaço para respirar. A voz de Aurea, junta-se ao coro, a dupla presente em palco, para cantar em uníssono, a um público já rendido.

O fundo do palco enche-se de pequenas luzes, a atmosfera convida às guitarras acústicas e à canção com a letra favorita da pessoa predileta da artista, "Start over". O momento mais emocional da noite, serviu de preparação para uma troca de "I’m ok" por alegres "I’m alright" do público. "Stand by me", original de Ben E. King, deliciou, durante breves minutos, a Lisboa que compareceu ao concerto.

A surpresa, na primeira apresentação da tournée, surgiu com Héber Marques (da banda HMB) que, em simbiose perfeita com a jovem artista, cantou em "I think I’m in love". Numa jornada funk, de óculos de sol e slap no baixo, o ensemble puxa pelo calor do público. Entre trocas de guarda-roupa e um solo de saxofone, de chorar por mais, "No, no, no, no" funde-se com uma adaptação de "I Feel Good", de James Brown.

Deixemo-nos de baile e voltemos a coisas sérias, com a quarta faixa de "Soul Notes", "Goodbye song". Depois do soar a despedida, as luzes do Tivoli acendem-se para mostrar lisboetas cantores, em "Busy (for me)".

Numa explosão de som, "If you’re good to me" poderia, facilmente, por um western com xerifes e cowboys a dançar o twist.

A timidez perdeu-se e o teatro da Avenida, tremeu com um pedido furtivo de encore. Numa noite de revelações, não poderia faltar "Just like you", uma declaração a "quem lhe mostra a diferença entre o que está certo e errado" e "Do you love me", um hino sobre a vida depois do amor. Apresenta-se a dupla de vozes, vestidas de alma, passando pelo saxofone e pelo órgão deitado sobre um piano de cauda, seguindo-se o trompete e todo o seu espírito jazz, a guitarra que toca até as cordas gritarem e o baixo que embala a secção rítmica até à entrada da bateria.

"Watch and learn" arrancou o entusiasmo do público e Aurea subiu ao ponto mais alto, em palco e na sua carreira, e é lá que irá ficar, com um futuro promissor.

Alinhamento
Do what’s best for you
Don’t you dare to touch her
Twice upon a time
The star
Scratch my back
Waiting, waiting (for you)
The main things about me
Nothing left to say
Start over
Okay, alright
I think I’m in love
No, no, no, no
I feel good
Goodbye song
Busy (for me)
If you’re good to me
Encore
Just like you
Do you love me
Watch and learn

Fotos: João Paulo Wadhoomall
Texto: Mónica Pires