Massive Attack no Campo Pequeno: 21 anos de "Mezzanine" com mensagem muito atual


Massive Attack no Campo Pequeno: 21 anos de "Mezzanine" com mensagem muito atual

A celebração de 21 anos do álbum Mezzanine (talvez o mais reconhecido da banda de Bristol) trouxe uma multidão ao Campo Pequeno. No espaço em que já tinham estado há pouco tempo para a tour anterior, os Massive Attack foram iguais a si próprios: música hipnotizadora, espetáculo de luz e som irrepreensível e de com grande mensagem social e crítica ao establisment.

Embora não tenha sido o melhor concerto que já deram no nosso país, Robert "3D" Del Naja e Grant "Daddy G" Marshall não desiludiram ninguém e até surpreenderam ao apresentar um alinhamento dividido entre todas as músicas do álbum de 1998 e versões que o influenciaram ou que até estavam presentes através de samples em algumas músicas.

Como já dissemos, os Massive Attack aproveitam o embalo dos ritmos hipnotizantes do trip-hop para nos enfiarem mensagens de consciência social e política pelos olhos (e mente) adentro. Os concertos desta dupla (aqui acompanhada por banda e vocalistas convidados) deveriam ser aulas de Comunicação e de Cultura Visual, tal a força da mensagem e dos vídeos do cineasta Adam Curtis e, quem sabe, da possível presença do artista-ativista Banksy no grupo (corre há vários anos a teoria de que é Robert Del Naja).

Quanto ao que à música diz respeito, e depois de uma intro pontuada por flashes intensos e guitarras estridentes ouvimos, não uma música de Mezzanine mas a primeira versão: "I Found a Reason" dos Velvet Underground (samplado em "Risingson"). É uma balada orgânica acompanhada de imagens "doces" de oásis, família real britânica ou de Britney Spears rodeada de paparazzi com ar meio azamboado.

Depois da canção samplada vem o resultado, que é como quem diz, "Risingson" tocada à contraluz e pontuada por coros e já com a voz intensa de Grant Marshall. Segue-se outra inspiração para este álbum, "10:15 Saturday Night" dos The Cure, a anteceder a entrada em cena do veterano do reggae Horace Andy para "Man Next Door" e da vocalista dos Cocteau Twins Elizabeth Fraser que empresta a sua voz límpida a "Black Milk".

3D e Daddy G juntam mais uma vez as vozes para "Mezzanine", a canção-título do álbum. E de seguida uma tempestade sónica, com "Bela Lugosi's Dead" dos Bauhaus aqui numa versão mais rock e ligeiramente menos dark do que a original.

Em "Exchange" sobressai a presença do contrabaixo e as imagens de found footage e depois regressa Horace Andy para interpretar a sua "See a Man's Face" acompanhada de mensagens de empowerment como "Think, Dare, Do". O sussurro da voz gravada (som e vídeo) em "Dissolved Girl" antecede "Where Have All the Flowers Gone?" de Pete Seger, cantada mais uma vez por Liz Fraser.

Os sons arábicos de "Inertia Creeps", acompanhados de mensagens contra a indústria farmacêutica são cortadas pela rockalhada "Rockwrok" dos Ultravox, que termina com a frase "As conspirações são uma conspiração" (durante a canção passaram imagens da chegada à lua e da amizade Trump-Putin, sendo o americano veemente apupado na sala).

Os momentos mais emotivos da noite chegaram com "Angel" cantada pelo jamaicano Horace Andy e "Teardrop" por Liz Fraser apenas com um jogo de luzes brancas a embelezar a sala.

Para terminar, uma breve passagem imprevisível por "Levels" de Avicii e o dueto Del Naja-Fraser em "Group Four".

Hoje há mais no Campo Pequeno e recomenda-se a todos a entrada nesta trip musical, visual e mental.

Fotografia: Everything is New
Texto: Miguel Lopes