Super Bock em Stock: a correria do maior festival da Avenida [fotos + texto]


Super Bock em Stock: a correria do maior festival da Avenida [fotos + texto]

De cara lavada, o Super Bock em Stock regressou este fim de semana à Avenida da Liberdade para animar as mais icónicas salas do centro lisboeta. O cartaz eclético deste ano representou a mistela ideal entre a música nacional e a internacional com mais de cinquenta artistas a tocar em mais de dez espaços. A habitual chuva fez-se sentir mas os grandes nomes que constaram no alinhamento aqueceram o ambiente invernal destes últimos dias.

O primeiro dia começou em grande! A celebrar o cartaz nacional feminino esteve Beatriz Pessoa, uma das primeiras atuações da noite de abertura. Com a sua voz doce, a jovem cantora apresentou ao público do Maxime (Sala Ermelinda Freitas) o EP II, a sua mais recente criação. Cantou em português e inglês e passou por temas como "Feminina", "Jogo do Engate", "You Know" ou "Namora Comigo", canção que escreveu para Cristina Branco e que cantou apenas acompanhada de guitarra.

Beatriz Pessoa

[alpine-phototile-for-flickr src="set" uid="60380835@N08" sid="72157703944463744" imgl="fancybox" style="floor" row="5" size="800" num="15" highlight="1" curve="1" align="center" max="100" nocredit="1"]

Os Fogo-Fogo animaram a Casa do Alentejo com os ritmos explosivos e contagiantes do funaná cabo-verdiano. O NGA pouco aqueceu o Capitólio mas, com os seus cabelos a relembrar a SIA, a cantora Ian fez tremer o São Jorge. Os norte-americanos Public Access TV pouco se fizeram ver, tal era o nevoeiro, mas sem dúvida que se fizeram ouvir e que contagiaram a sala Manoel de Oliveira com os ritmos de rock.

Também Johnny Marr, o músico de Manchester e membro fundador dos icónicos The Smiths, se juntou à correria desenfreada da Avenida da Liberdade. Lançou este ano o álbum a solo Call The Comet que apresentou a Lisboa na sexta-feira passada. Muito bem recebido, o quinquagenário ex-Smith pisou o palco do Coliseu dos Recreios após a performance de Manuel Fúria e os Náufragos. Com o volume consideravelmente baixo, começou com o tema original "The Tracers" mas rapidamente tocou o aguardado "Big Mouth Strikes Again" (1996). Sempre com uma postura jovem, disfarçando os seus 55 anos, o cantautor britânico encantou o pouco mas fervoroso público do Coliseu.

Johnny Marr

[alpine-phototile-for-flickr src="set" uid="60380835@N08" sid="72157704007213705" imgl="fancybox" style="floor" row="5" size="800" num="20" highlight="1" curve="1" align="center" max="100" nocredit="1"]

Micah Davis, conhecido como Masego, uma das atuações mais aguardadas da primeira noite de festival, apresentou-se pela primeira vez a Portugal na sala do Cineteatro Capitólio. E que primeira vez! O jamaicano de 25 anos esgotou a sala e a fila para entrar quase chegava ao Maxime. Certamente a estrela da noite, abriu com "Tadow", o mais esperado, mas poucos dos clássicos que editou faltaram no alinhamento. "Lady Lady", tema homónimo do último álbum do músico, "Queen Things" ou "Old Age" ecoaram no Capitólio. Masego não só demonstrou a enorme versatilidade musical que relata em "I Do Everything" (2016) tocando bateria, teclado, saxofone, cantando e fazendo beat box, como recebeu a audiência com uma energia e humor inigualáveis, mesmo após a companhia aérea perder a sua mala. Retomou a palco para o encore e tocou "Navajo", que não podia faltar! "Hi De Ho" e o público ficou de coração cheio.

Masego

[alpine-phototile-for-flickr src="set" uid="60380835@N08" sid="72157676056680728" imgl="fancybox" style="floor" row="5" size="800" num="28" highlight="1" curve="1" align="center" max="100" nocredit="1"]

O encerramento da primeira noite de Super Bock em Stock ficou a cargo dos Capitão Fausto que tocaram para um Coliseu completo mas pouco efusivo. Os músicos portugueses apresentaram-se em tom morno numa prestação que ficou muito aquém das expectativas. Tocaram clássicos "Morro Na Praia", "Teresa" ou até o novo single "Faço As Vontades" mas não bastou para aquecer a noite fria de novembro. Será que têm os dias contados?

Capitão Fausto

[alpine-phototile-for-flickr src="set" uid="60380835@N08" sid="72157704007486985" imgl="fancybox" style="floor" row="5" size="800" num="15" highlight="1" curve="1" align="center" max="100" nocredit="1"]

O segundo dia não ficou atrás. À semelhança do que aconteceu na sexta-feira, a Casa do Alentejo voltou a ser inundada com os contagiantes ritmos do funaná. O português Dino D’Santiago apresentou orgulhosamente o seu último álbum Mundo Nôbu perante um público muito recetivo. O jovem músico, que se intitula como uma feliz herança do colonialismo, provou que o crioulo é universal e iluminou a casa do Alentejo com o simpático sorriso que constantemente tem na cara ao som de canções como "Mundo Nôbu" ou "Raboita Sta. Catarina".

Dino D’Santiago

[alpine-phototile-for-flickr src="set" uid="60380835@N08" sid="72157704008075565" imgl="fancybox" style="floor" row="5" size="800" num="18" highlight="1" curve="1" align="center" max="100" nocredit="1"]

Após a aula de dança com Dino foi a vez de Charles Watson brilhar no histórico São Jorge. O músico londrino, membro do duo Slow Club, tem atualmente dois álbuns de originais editados e apresentou este fim de semana o mais recente, Now I’m A River. Um concerto calmo e melancólico, apenas animado com tema "Abandoned Buik", teve pouco apoio do público mas nada abalou a postura do músico em palco.

Charles Watson

[alpine-phototile-for-flickr src="set" uid="60380835@N08" sid="72157704008187185" imgl="fancybox" style="floor" row="5" size="800" num="11" highlight="1" curve="1" align="center" max="100" nocredit="1"]

No recentemente inaugurado Maxime esteve Janeiro que apresentou a sua poesia em bom português a um público muito feliz. Acompanhado da sua banda, o músico cantou os seus temas com os trejeitos de Salvador Sobral e com enorme gratidão pela enchente na sala Ermelinda Freitas. Apresentou o álbum Fragmentos, editado ainda este ano, e provou que embora a preguiça seja tema recorrente nos seus temas não é de todo algo que o atinja.

Janeiro

[alpine-phototile-for-flickr src="set" uid="60380835@N08" sid="72157704008350965" imgl="fancybox" style="floor" row="5" size="800" num="10" highlight="1" curve="1" align="center" max="100" nocredit="1"]

Rejjie Snow foi uma das atuações mais ansiadas da última noite do festival. Após vinte minutos de um inesperado dj set o rapper de Dublin entrou em palco para uma atuação que se descreve como, no mínimo, singular. "Isto não é um concerto de hip-hop, é uma experiência", disse o irlandês e talvez assim se justifique a pobreza da prestação que trouxe à capital. "Egyptian Luvr" foi cortado bruscamente a metade, mas não faltaram no alinhamento clássicos do mais recente longa-duração como "Annie", o tema que dá título ao álbum, "Rainbows" ou "Spaceships". A apresentação do jovem Rejjie terminou com um grande mosh mas o público do Capitólio foi dispersando e poucos foram os que ficaram para o final.

Rejjie Snow

[alpine-phototile-for-flickr src="set" uid="60380835@N08" sid="72157673898762847" imgl="fancybox" style="floor" row="5" size="800" num="18" highlight="1" curve="1" align="center" max="100" nocredit="1"]

Os Jungle foram os responsáveis pelo término do festival e o Coliseu dos Recreios foi abaixo com os seus ritmos modernos e dançantes. Os britânicos estiveram em Portugal em agosto deste ano mas a efusividade da audiência provou que nunca é demais. "Crumbler" e "Lemonade Lake", temas do álbum de estreia, foram interrompidos devido a problemas técnicos, mas o excelente público do Super Bock aguardou pacientemente e festejou o retorno do conjunto a palco como se nada tivesse acontecido. "House In LA", "The Heat" e "Easy Earnin" não ficaram de parte no alinhamento dos londrinos, mas o remate final foi em grande ao som de "Time", tal como aconteceu no Vodafone Paredes de Coura ainda este verão.

Jungle

[alpine-phototile-for-flickr src="set" uid="60380835@N08" sid="72157673898842287" imgl="fancybox" style="floor" row="5" size="800" num="16" highlight="1" curve="1" align="center" max="100" nocredit="1"]

Assim terminou esta edição do festival Super Bock em Stock que, embora tenha ajudado a esquecer a chuva de novembro, num panorama geral deixou a desejar. As escolhas em termos de cartaz ou de logística levaram ao ligeiro declínio da qualidade geral do festival que ainda assim muitos satisfez. Na memória ficarão sem dúvida as incríveis prestações de Masego, Johnny Marr e, como não poderia deixar de ser, Jungle.

Ambiente Super Bock em Stock

[alpine-phototile-for-flickr src="set" uid="60380835@N08" sid="72157673898912807" imgl="fancybox" style="floor" row="5" size="800" num="15" highlight="1" curve="1" align="center" max="100" nocredit="1"]

Fotografia: Eduardo Salvador
Texto: Maria Roldão