Diogo Piçarra em entrevista: "A música é universal e entende qualquer língua"


Diogo Piçarra em entrevista: "A música é universal e entende qualquer língua"

A uma semana de estrear o palco do Rock in Rio-Lisboa, conversamos com Diogo Piçarra sobre as expectativas de encarar um dos maiores palcos do mundo. O artista falou do orgulho que sente em integrar o cartaz e da barreira da língua que pensa não vir a encontrar no festival. Apresentou também o seu recente EP Abrigo e contou como foi escrever e produzir inteiramente estas três canções.

Sem ninguém esperar, Abrigo sai cá para fora com três novas canções. O que é que pretendeste e esperaste com esta surpresa?

Há algum tempo que eu já não lançava músicas, principalmente a solo. Tinha lançado a "Trevo" e a "Até ao Fim" mas desde a "Só Existo Contigo", do verão passado, que eu não lançava um original sozinho. Então esta foi quase uma forma de compensar as pessoas que me seguem, com três música de uma vez. Também quis começar uma nova fase, vem aí o Rock in Rio, o Sudoeste, outros grandes festivais e concertos, e foi uma forma de enriquecer o espetáculo deste ano e não repetir a fórmula exata que tenho vindo a fazer. Quis mostrar algo novo e, como artista, é sempre bom ter músicas novas no alinhamento. Dá mais vontade de tocar o novo concerto!

São três canções que fazem como que uma trilogia de histórias. O que é que liga estas canções?

Acima de tudo, em termos líricos, são ligadas por uma certa revolta. Era mais fácil explicar se cantasse aqui! (risos) Mas existe realmente, nas letras, alguma revolta mas, a ideia também é concluir que, no fundo, há sempre um lugar de paz e um abrigo. Há sempre um lugar, que pode ser uma pessoa específica ou mesmo um local, que nos transmite essa harmonia e calma. Quis mostrar que estou bem apesar de tudo o que aconteceu e que estou a fazer música, que é o que mais gosto de fazer. Esta trilogia mostra que estou feliz e que tenho sempre o meu abrigo, seja com a namorada, com a família, amigos e mesmo com os fãs! É também um convite às pessoas para esse abrigo.

"Era Uma Vez", "Abrigo" e "Paraíso" são inteiramente escritas e produzidas por ti mas também os videoclipes têm a tua produção, juntamente com o teu irmão André Piçarra. Foi um objetivo teu criar um EP que tivesse a tua mão diretamente do início ao fim?

Foi mesmo essa a intenção e, pela primeira vez, fazer algo sozinho. Eu sempre escrevi as músicas mas tive sempre alguma ajuda na produção, principalmente na parte técnica. Normalmente tenho cinco ou seis produtores a ajudarem-me com as canções. Desta vez quis fazer tudo sozinho para poder mostrar um pouco mais de versatilidade e para criar esse elo de ligação entre as músicas. Sendo só um produtor, torna-se mais fácil conseguir encontrar esse fio condutor entre elas. Depois também quis pensar os videoclipes! Fui eu que os editei a todos, só não fiz a correção de cor. A parte do vídeo é uma das minhas paixões e contei com a ajuda do meu irmão, que está sempre comigo, para as gravações. Ele conhece-me desde sempre e é o meu braço direito! Pela primeira vez encarei este grande desafio e tentei fazê-lo em tempo recorde antes desta digressão de verão. Mas acho que conseguimos! Está a correr tudo bem, principalmente o "Paraíso". Não esperava esta receção, aliás, nem espera que o EP tivesse grande impacto porque foi lançado de surpresa. Normalmente faz-se uma grande promoção, com muitos teasers, muita publicidade e, neste caso, quis fazer o oposto. Quis não aborrecer as pessoas e fazer com que fosse orgânico. Quem me segue acaba por encontrar as músicas e quem não segue pode vê-las nas partilhas dos amigos. Tem corrido muito bem por isso!

No dia 23 vais estrear um dos maiores palcos do mundo, o Palco Mundo do Rock in Rio-Lisboa. Qual é a sensação de fazer parte de um evento com esta magnitude?

É, sem dúvida, um enorme orgulho e muito gratificante. Nunca esperei nada disto. Nunca esperei cantar na vida e, muito menos, ir a um palco como o do Rock in Rio que, como disseste, é um dos maiores do mundo. É realmente uma sensação incrível subir a um palco daquele tamanho e com aquela responsabilidade. Sei que vou dar o meu melhor, sei que vamos dar um grande espetáculo e conto com os bailarinos, com a minha banda e com a minha equipa técnica para isso! Temos tudo montado, está tudo ensaiado e agora é disfrutar do momento. Claro que é um marco para mim mas acho que quem me segue, os meus fãs, também devem estar muito contentes por mim e por aquilo que temos caminhado juntos! Porque eu não estou sozinho e eles sabem bem todo o meu esforço e dedicação. Pisar este palco é um marco e um objetivo cumprido que eu espero estar à altura.

O desafio em atuar para uma plateia onde há pessoas de outras nacionalidades que não entendem o português é intimidante ou é ainda mais desafiante?

É desafiante! Eu acho que não existem essas barreiras, acho que a música é universal e entende qualquer língua. Prova disso foi, por exemplo, o que aconteceu na Eurovisão com a vitória do Salvador! A música é universal e, independentemente da língua, o que passa é o sentimento e a envolvência da música que, quando está lá, não interessa o idioma. Tenho muitas pessoas de outras nacionalidades que me mandam mensagens mesmo não percebendo a língua. Penso que mesmo não percebendo o que digo, percebem a dedicação e o sentimento que lhes ponho. Espero um dia poder fazer uma música ou duas em inglês mas neste momento não é um objetivo. Eu gosto muito da nossa língua e, para mim, é a mais bonita do mundo. Não tenho dúvidas disso e espero continuar sempre a escrever em Português.

Parece que as nossas palavras têm sempre mais força…

Sem dúvida e chegam mais fundo ao coração. O inglês tornou-se uma língua um bocadinho mais plástica por ser cantado por tanta gente e por ser tão limitado. Principalmente pelas pessoas que o usam fazerem sempre as mesmas expressões e as mesmas rimas. As terminações das frases são sempre dentro do mesmo e parece que acaba tudo em "you". Acho que se tornou uma língua tão limitada na música, porque não o é no geral, e esta repetição faz perceber a riqueza do Português. A nossa língua é muito mais rica e bem mais poética e, como somos portugueses, toca-nos mais no coração. Mas também é mais difícil!

Depois de um ano como 2017 onde lançaste o álbum Do=s e fizeste uma tour que passou pelos Coliseus de Lisboa e Porto, a pressão para manter a fasquia é muita, ou é um dia de cada vez?

Há sempre pressão, mas tento encará-la como tu estás a dizer, é um dia de cada vez. Claro que estou sempre a pensar no amanhã, e o amanhã para mim são dois anos. Estou sempre a pensar no que fazer daqui a um ano ou no próximo disco. Tento sempre ter um plano e este planeamento e preparação têm-me ajudado imenso. Nada é fruto do acaso e acho que é importante frisar isso. É um trabalho de equipa, da Universal e dos que me dão apoio, o meu irmão, namorada e a minha família. Eu não estou sozinho nesta caminhada e, por isso mesmo, é que sinto que as coisas têm corrido bem. Há sempre pressão mas, pensar as coisas com tempo e planeá-las ajuda a combater essa pressão. Queremos sempre fazer mais e melhor, é assim com qualquer artista, nunca estamos completamente satisfeitos com a música que lançamos e achamos que conseguimos sempre fazer melhor. O disco que lançamos nunca é perfeito e eu sinto muito isso a cada trabalho. Sou um eterno insatisfeito e acho que é esse o motor que nos faz trabalhar cada vez mais.

E vais ter um verão cheio de concertos, certo?

Sim, mais um! Não esperava nada porque, como disseste, 2017 foi em grande, com os Coliseus e mais de 70 concertos. Corremos muitos sítios e este ano acho que está perto de repetir-se o feito!

Entrevista: Daniela Fonseca