Tatanka fez da Casa da Música a sua sala de estar
Músico português levou à cidade invicta o seu projeto em nome próprio.
O anúncio de "Esgotado" já tinha sido colocado no cartaz uns dias antes do concerto. O espaço parecia pequeno para acolher as pessoas que já se viam obrigadas a ocupar o seu lugar de pé. No palco, uma ensamble de instrumentos profetizava algo diferente do que, por exemplo, havia sido apresentado por Tatanka no Silo-Auto há um ano no NOS D’Bandada. Um arranjo musical da banda que agora o acompanhava chamou-o e ele entrou em palco para apresentar o seu trabalho a solo.
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A barreira entre palco e plateia se desmoronou bem cedo – com "Alfaiate" o público começou a ser conquistado e, apesar de após 3 músicas que o público gostou, Tatanka ter dito que era tempo agora de "cantar uma que vocês não vão gostar", foi contrariado com a voz em uníssono da plateia a entoar "Sou a tristeza que te faz sorrir" parte do tema "Canção De Mim Mesmo".
A voz em jeito soul e a guitarra em modo blues não prendem Tatanka a um estilo de música específico, mostrou que, se quiser ir a Buenos Aires buscar uma melodia Argentina não precisa de fazer a viajem… está rodeado de amigos músicos que o ajudam a criar algo do seu agrado – Salsa e Megre Bessa (ambos parte d’Os Azeitonas) foram os primeiros convidados a subirem ao palco e uma "Tango Vibe" invadiu a sala. O companheirismo dos músicos que se apresentavam em palco era palpável através da música que tocavam. O "duo dos Ujos" (Miguel Araújo e António Zambujo) sentou-se também ao lado do "homem do chapéu" (como ouvi um membro do público a referir-se ao artista principal que dava nome ao concerto) para interpretar uma Valsa da autoria de Samuel Úria ("Valsa do Vai Não Vás") e Darkest Hour.
Os convidados iam saindo e entrando, o ambiente tornava-se cada vez mais descontraído, um cigarro casualmente se acendia e o convívio continuava. A maior surpresa da noite foi talvez a da presença de um convidado que pouca gente conhecia (eu próprio incluído) – Diego El Gavy apresentou "Keep on Walking", uma parceria antiga fruto de tardes em que os dois "perderam a noção do álcool". Com uma voz de potência flamenca extraordinária arrepiou toda a sala que o ovacionou em pé.
Antes do pano fechar, ainda houve tempo para fazer uma homenagem aos Beatles e a Zeca Afonso com a "Minha Aldeia" e de Miguel Araújo voltar a subir ao palco e ajudar a satirizar a sociedade com "Império dos Porcos".
A sala que no início era pequena em termos de espaço para tantas pessoas, era agora pequena para tanto talento. Prova de que num próximo concerto seu, Tatanka tem capacidade para encher a sala principal da Casa da Música ou, quiçá, um Coliseu.
Fotos: António Teixeira
Texto: Henrique Caria
Inserido por Redação · 26/12/2017 às 14:56