António Zambujo e Miguel Araújo ao vivo no Coliseu de Lisboa [fotos + texto]
António Zambujo e Miguel Araújo esgotaram o Coliseu dos Recreios numa estreia frenética.
A dupla Bejense (António Zambujo) e Portuense (António Zambujo), não podia ter feito melhor estreia num primeiro dia com lotação esgotada e entusiasmo, pautados com música portuguesa de primeira linha que fez soar os mais secretos corações. Era o ponto de partida para 17 noites nos Coliseus de Lisboa e Porto.
Com uma amizade assumida já mesmo antes de cada um ter seguido carreiras a solo e ter despoletado para o auge, o espetáculo foi marcado por uma apresentação de músicas de cada um dos seus repertórios, em que bons amigos cantaram e interpretaram à sua maneira como se de um convívio íntimo se tratasse. Num estilo inconfundível de letras criativas e cativantes, ambos reconheceram algumas similaridades e identificação com as suas músicas, como se estas mesmas fossem feitas para a vida de um e de outro. Ouviram-se temas de Miguel Araújo como "Recantiga" e com um carácter mais tradicionalista alentejano, "Fui colher uma romã" de António Zambujo, para abrir a grande noite.
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Sem nunca esquecerem a sua ancestralidade portuguesa e acima de tudo regional, não puseram de parte para além da guitarra acústica e elétrica, a sonoridade transbordante do cavaquinho, instrumento que tem vigorado desde tempos longínquos, na nossa música tradicional. A acompanhar e como plano de fundo deste encontro único, a arte do palco era constituída por escadotes reutilizados das vindimas e instalações de algumas lâmpadas multicolores que povoavam o imaginário das letras poéticas.
O público sentia grande identificação e alegrava-se com as piadas e histórias ricas contadas pela dupla, recordando bons momentos e lembranças de suas infância.
Miguel Araújo, por ter um registo de influências musicais um pouco distintas de Zambujo no que toca à música popular regional que no Porto em específico é pouco farta, revelou-se um grande fã e intérprete de Bob Dylan.
Com uma garrafa de vinho em cima da mesa, iam tomando uns goles, enquanto em jeito de brincadeira revelaram: "O nosso camarim parece uma farmácia". Entre boas gargalhadas que convidavam a um ambiente intimista, relembraram um jantar que ambos tiveram pouco depois de se terem conhecido.
A noite prossegue com temas como "E tu gostavas de mim", música feita para Ana Moura, e o tema "Pica do 7", que repentinamente despertou o público para cantar e embalar-se na narrativa e melodia de tanta qualidade.
Entre interpretações de algumas músicas espanholas conhecidas, cantam "Vai Passar" do mítico Chico Buarque e "Nervos de Aço" do compositor gaúcho Lupicínio Rodrigues que ambos apreciam. Todas estas foram memórias de músicas que escutavam e que constituíram positivas influências para os compositores e intérpretes que hoje se tornaram. Não podiam igualmente de deixar de cantar um grande tema de Chitãozinho e Xororó, "No Rancho Fundo", música que nos remonta a um imaginário singelo e de vida rural.
António Zambujo mudou de instrumento e decidiu-se por arriscar na guitarra elétrica, enquanto que Miguel Araújo tentou o nobre violoncelo para acompanhar num ritmo de contra baixo. Estas mudanças dão à luz a magia de "Algo Estranho Acontece" e "Readers Digest", músicas com letras incomuns que unem o tradicional ao moderno.
"Balada Astral" é o tema que se segue, um hino cantado em honra ao milagre da criação e de estarmos vivos. Mas, tal como as partilhas da vida, não se podia deixar de falar em dramas matrimoniais, como conta o tema "Os Maridos das Outras", com direito a acompanhamento do público que sabia muito bem parte das letras do início ao fim.
Já a noite adiantava-se em ritmo vertiginoso para o final e "Flagrante" de António Zambujo culminou num grande aplauso geral e entusiasmos. A dupla despede-se e sai do palco com o público a pedir um encore, fazendo barulho e deixando um coliseu com sede por um regresso de ainda mais genialidade.
Miguel Araújo volta para tocar ao piano, começando com o tema "Hey Jude" dos The Beatles. Mas o coroar de uma noite memorável ficou ao encargo do embalo de "Anda Comigo Ver os Aviões", tema mítico dos "Os Azeitonas", finalizando com a "Lambreta" de Zambujo, do álbum Quinto de 2012.
Com uma viagem pelas carreiras de Araújo e Zambujo, estava assim concluída uma grande estreia que demonstrou como a música nacional é um tesouro surpreendente a ser explorado, deixando-nos a todos orgulhosos pela qualidade exímia deste dueto que une encantos desde o Norte até ao Sul e fora de Portugal.
Fotos: Carlos Valadas
Texto: Rita Costa
Inserido por Redação · 19/02/2016 às 12:42